Preconceito é uma coisa tão deprê que não impacta apenas as causas humanitárias e os anseios de quem reconhece a importância de trabalhar por um mundo mais inclusivo.
No mundo business, a ausência de pessoas com deficiência no mercado de trabalho – bem como a de outros grupos sociais menos favorecidos – mexe com outra esfera: a econômica. E quem perde é a sociedade no todo.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, divulgada em setembro passado, naquele ano contávamos com 17,2 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no país – maior parte (24,8%) com 60 anos ou mais, sendo principalmente mulheres e mais pessoas pretas ou pardas. Segundo o estudo, a maioria dos casos envolve problemas com os membros inferiores.
De acordo com dados do mesmo levantamento, 7 em cada 10 pessoas com deficiência estão fora do mercado formal de trabalho, e o salário médio dessa população é R$ 1 mil menor.
Aí você imagina se o grupo fosse incluído, de fato, no setor empresarial! Mais pessoas conquistariam independência e reconhecimento, as empresas ganhariam em relação à humanização da gestão, enquanto a economia do país seria estimulada, uma vez que mais gente estaria exercendo atividades remuneradas.
Mas na série de impasses das pautas do eixo dos Direitos Humanos, muitos mitos ainda cercam gestores e colaboradores sobre a inserção desse público – mesmo com a lei brasileira de cotas, que obriga empresas com 100 funcionários ou mais a preencherem de 2% a 5% dos seus cargos com pessoas com deficiência.
Nesse cenário excludente, trouxemos este post para derrubar algumas fake news sobre a contratação desse público, especialmente agora, quando várias tecnologias sociais colaboram para que todos possamos estar juntos em um mesmo espaço, com nossas semelhanças e diferenças.
Entenda!
7 mitos sobre a contratação de pessoas com deficiência
Quem nos acompanha por aqui sabe que a gente gosta é de trazer verdades. Então, se você, gestor ou contratante, ainda tem dúvidas sobre a contratação de pessoas com deficiência, é hora de se desfazer de alguns mitos que identificamos (e quebramos!), inclusive, dentro da própria Vivo.
Mito 1: “São poucas as pessoas com deficiência”
Acima já trouxemos os números e talvez você acredite que elas são poucas porque não se deu conta ainda de que os espaços sociais não estão prontos para recebê-las com a dignidade que todo mundo merece. Já reparou na acessibilidade dos transportes públicos e nas condições das calçadas das cidades para um cadeirante, por exemplo?
O fato é que, apesar de parte dessas pessoas estar aposentada ou ser ainda muito jovem para trabalhar, a enorme maioria aguarda uma oportunidade no mercado de trabalho.
Mito 2: “Muitas pessoas com deficiência preferem receber benefício do governo”
Quem contrata sabe que o BPC (Benefício de Prestação Continuada) garante uma renda mensal ao grupo, mas a concessão é direcionada apenas àqueles que comprovam que a família é de baixa renda, no caso, 2,5 milhões de 17 milhões de pessoas com deficiência no país.
Só que, infelizmente, o valor do benefício não faz de ninguém rico – ele equivale a um salário mínimo mensal ou R$ 1.302,00, hoje e, com o reajuste, a partir de maio será de R$ 1.320,00.
Há vagas destinadas ao público que oferecem valores inferiores àqueles sugeridos para pessoas sem deficiência. Claro que isso impacta na decisão da pessoa com deficiência, afinal, seus desafios são muito maiores: a depender da estrutura do local, e da locomoção até chegar lá, elas podem correr maiores riscos, inclusive, em relação à segurança.
Mito 3: “Pessoas com deficiência não são muito qualificadas”
É fato que o Brasil está longe de ser um grande exemplo em educação inclusiva, sem contar que as barreiras de acessibilidade só para que algumas pessoas do grupo consigam chegar até as escolas, são muitas.
Esses e outros fatores dificultam a conclusão dos estudos de parte deles já no ensino básico, mas esse não pode ser um impasse para a contratação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
De acordo com um estudo promovido pela iSocial, que analisou um único site de vagas de emprego, considerando uma base de 45 mil currículos, 36% do grupo tinha curso superior, enquanto 42%, o segundo grau completo. Assim, é válido considerar que há vários cenários envolvidos, afinal, qualquer profissional está sujeito a sofrer um acidente, tornando-se parte desse público, não é mesmo?
Mito 4: “Pessoas com deficiência física têm enorme potencial de superação”
É sempre muito fácil tirar conclusões quando não falamos de nós mesmos, e o pior é que muita gente pensa assim – associa a pessoa com deficiência aos superatletas paraolímpicos ou àquelas que aparecem na grande mídia em versões romantizadas, como “motivo de orgulho por terem superado desafios”.
Mais um preconceito identificado, afinal, falamos de gente comum, com sonhos, medos, crenças e que, antes de tudo, quer só seu próprio espaço e não deve sentir o peso da responsabilidade de grandes feitos todos os dias.
Claro que o potencial de superação de muitos é louvável e merece nossa admiração, mas essa não deve ser uma regra. Até porque, o simples fato de se adaptarem aos desafios impostos pela falta de políticas públicas que dificulta seus direitos de ir e vir, já é absolutamente notável.
Mito 5: “Pessoas com deficiência produzem menos”
Outro erro fatal, que diz mais respeito à falta de preparo (e informação!) quase sempre dos setores de recrutamento com visões ainda preconceituosas.
Quando a contratação é realizada de forma correta, a pessoa com deficiência já deverá ocupar uma posição adequada e receber o treinamento específico para o desempenho da função para a qual foi recrutada.
Não terceirize um problema quando, na verdade, você, que emprega, pode criar soluções sociais, incluindo pessoas om deficiência no mercado de trabalho, afinal: na maioria das vezes, é o próprio empregador que não faz um estudo de viabilidade adequado ou não fornece os meios necessários para lhes dar condições para o trabalho, nesse cenário, o que deve mudar é a cultura da empresa.
Mito 6: “Pessoas com deficiência não podem ser cobradas como os demais colaboradores do time”
Mais um deslize que só diz respeito ao preconceito. A partir do momento em que você olha seu próximo como alguém igual a você, entende que o grupo pode até ter alguma limitação, mas não é incapaz e, por isso, deve ser tratado como qualquer outro colaborador, sem infantilização.
Lembre-se que, especialmente os grupos menos inclusos no mercado de trabalho, têm tendência maior de apresentar resultados, até porque quase sempre se cobram mais, justamente devido às dificuldades históricas que enfrentam.
Sem contar que, a depender da deficiência, podem ser até melhores que os colaboradores sem deficiência, a exemplo dos perfumistas e testers, no geral.
Mito 7: “Se não der certo em minha empresa, não tem como demiti-lo”
Essa aqui está lado a lado do mito acima, afinal, não há qualquer dispositivo legal que impeça o desligamento de uma pessoa que pertence ao público no mercado de trabalho, tanto sem justa causa quanto por justa causa.
Elas estão sujeitas a demissões como quaisquer outras pessoas, afinal, são pessoas como todas, não é mesmo?
Se os puxões de orelha valeram a reflexão, acalme-se. Após quebrar preconceitos, qualquer gestor, contratante ou empresa pode pedir ajuda, afinal, a sociedade está em eterno aprendizado, mas precisa evoluir.
Está com dúvidas ou sentindo-se inseguro para receber uma pessoa com deficiência em sua companhia? Peça ajuda.
Há muitas empresas especializadas na inclusão do grupo no mercado de trabalho e uma série de tecnologias sociais disponíveis para que seu negócio possa recebê-las com o mesmo carinho que todo mundo merece.
Inclusão traz muito mais benefícios que apenas a isenção fiscal, por isso, mergulhe nesse tema e só não deixe de cumprir com sua função social se você é empregador, por favor!