Empresas de norte a sul do Brasil vêm somando esforços para reduzir os impactos das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de suas operações. No entanto, na contramão do planeta, nosso país regrediu.
As emissões brasileiras de gases de efeito estufa tiveram em 2021 sua maior alta em quase duas décadas. O país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente no período, um aumento de 12,2% em relação a 2020 (2,16 bilhões de toneladas). Índices tão elevados não eram vistos desde 2006 e o maior vilão foi o desmatamento, que voltou a crescer, especialmente na Amazônia e nas regiões do Cerrado.
Os dados são do levantamento SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima, que todo ano calcula quanto o Brasil gerou de poluição climática. Até o final do ano, a entidade divulgará os números de 2022, mas as expectativas não são das melhores.
Por isso, muitos setores vêm trabalhando no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.
Mas por que se fala tanto em reduzir as emissões de CO²?
Emissões de carbono: o problema
Os Gases de Efeito Estufa são substâncias gasosas naturalmente presentes na atmosfera que absorvem parte da radiação infravermelha emitida pelo Sol que é refletida pela superfície terrestre, dificultando o escape desta radiação (calor) para o espaço.
Há quatro principais GEE: o dióxido de carbono (CO2), o gás metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o hexafluoreto de enxofre (SF6), mas para que fique mais fácil entender e analisar os dados, todas essas emissões são convertidas em CO2eq (Dióxido de Carbono equivalente), por isso, popularmente dizemos, emissões de carbono.
Ou seja, os GEE são, na verdade, fenômenos naturais do planeta. A respiração humana e dos animais, por exemplo, é uma fonte natural de CO², bem como as erupções vulcânicas e as queimadas naturais.
Sem o CO² e outros gases de efeito estufa, a vida na Terra provavelmente seria inviável. O problema é que, quando oriundas das atividades humanas desenfreadas, colaboram para o aumento acelerado das temperaturas, que desencadeiam um processo quase que irreversível de alterações de fenômenos diversos da natureza – as temíveis mudanças climáticas.
A queima desequilibrada de combustíveis fósseis – um dos grandes vilões dessa pauta – vem acontecendo desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945). Em 1950, apenas cinco anos depois, as emissões globais por ano saltaram de 4 bilhões para 6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Cerca de 52,74% ocorreram a partir de 1990, entenda no gráfico, abaixo.
Assustador, não é mesmo?
Por isso, o assunto do momento é a descarbonização, ou a chamada compensação de carbono, caminho que busca diminuir as consequências do excesso de gases de efeito estufa, em especial, o CO².
No setor industrial há várias formas de reduzir as emissões, desde a queima controlada de combustíveis para a fabricação de produtos até a logística do transporte desses materiais para o ponto de venda.
Quer exemplos?
A Vivo é a primeira companhia brasileira do setor a se tornar carbono neutro, ou seja, reduz e/ou compensa toda as emissões de sua operação. A empresa trabalha compensando as emissões de todas as suas operações diretas: usa 100% de eletricidade gerada de fontes renováveis, incentiva o compartilhamento de carros e veículos elétricos e, dentre outras ações, já reduziu 76% das suas emissões desde 2015. A meta agora é reduzir em 90% até 2025.
Em maio de 2022, a Lenovo anunciou a chegada do CO² Offset Service ao país: serviço voltado a clientes das linhas ThinkPad, Legion e Yoga que, ao adquirirem esses modelos, podem vincular créditos de carbono à operação que são direcionados a uma organização parceira da marca, voltada a projetos para o meio ambiente.
Essas e outras iniciativas vêm ganhando força em todo o mundo e, quando bem orquestradas, permitem efeitos benéficos para o planeta. Nesse caso, permitir que uma organização compense suas emissões de carbono por meio do apoio a programas sustentáveis.
Inovações: como contribuem para a redução das emissões de carbono?
Conversamos com especialistas que nos trouxeram tecnologias sustentáveis recentes para a mitigação das emissões de CO² em dois eixos estratégicos. Confira!
Na exploração pecuária
Segundo estudo conduzido pela Universidade do Colorado Boulder por iniciativa da Política Climática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a pecuária brasileira é responsável por 15% das emissões mundiais de gases de feito estufa.
Somos os maiores exportadores do mundo de carne bovina e isso é bom, afinal, o setor corresponde a uma parcela significativa da nossa economia, além de ser um meio importante de subsistência para muitas comunidades rurais. Daí a importância de desenvolvermos nosso potencial tecnológico nessa causa.
A chamada fermentação entérica é um dos fatores que contribuem para as emissões no âmbito da agropecuária. Trata-se do processo de digestão do rebanho bovino, quando os animais liberam gás metano via eructação – o popular “arroto” do boi.
Outro impasse está na derrubada de florestas para abrir pastagens para os rebanhos. Para limpar os terrenos, são realizadas queimadas, que emitem os gases de efeito estufa.
Parte do problema já pode ser combatido com sistemas integrados de produção agropecuária, como a ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta).
Entenda!
Sistemas como a ILP e a ILPF intensificam o uso do solo e reduzem a pegada de carbono da pecuária. Segundo Alexandre Nascimento, da Embrapa Agrossilvipastoril, um pasto bem manejado pode compensar as emissões de dois animais e os sistemas com a presença de árvores podem compensar a emissão de até dez animais.
“Há três formas de reduzir as emissões de metano do gado. Uma é pela genética, mas ainda é um processo em desenvolvimento. Outra é mexendo no rúmen do animal, seja com antibióticos ou eletrodos. Mas são formas caras e ainda inviáveis em grande escala. A terceira, e mais fácil, é via alimentação. Quanto menos tempo levar para completar o ciclo do animal, menor será a emissão por kg de carne ou leite produzido. Temos todas as práticas prontas, temos as tecnologias, falta a adoção. E essa é uma grande oportunidade para aumentar o valor agregado da produção”, avalia.
No setor de energia
De volta aos dados do levantamento SEEG, o setor energético foi responsável por 18% das emissões de CO² do país em 2020, com grande queda de 4,6% em relação ao ano anterior justamente pela redução do transporte de passageiros, da produção industrial e da geração de eletricidade promovidas pela pandemia.
Se falarmos só na extração e refino de petróleo, contamos com um grande emissor de metano no setor, diretamente associado ao uso de combustíveis fósseis que, quando queimados, emitem gases de feito estufa como o CO².
Mas a boa nova é o desenvolvimento do HISEP: recente inovação da Petrobras que promete tornar ainda mais sustentável a produção de petróleo de campos do pré-sal – já considerada a matriz que menos emite CO² no mundo (40% menos que a média global).
Mas como?
A tecnologia foi desenvolvida para separar e reinjetar, ainda no fundo do mar, o gás com elevado teor de CO² produzido junto com o petróleo. O caminho evita que esse gás seja processado a bordo da plataforma, reduzindo a emissão de CO².
“É um caso exemplar, inovação que é patente nossa e representa um passo importante no avanço tecnológico em baixo carbono”, afirma João Henrique Rittershaussen, Diretor Executivo de Desenvolvimento da Produção na Petrobras.
Há muitas tecnologias em teste para que nós – seres humanos responsáveis por gerar tantos danos ao meio ambiente – possamos reverter nossas atividades ao longo de um período tão curto da história do planeta.
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