A 28ª Conferência das Partes (COP) das Nações Unidas (ONU) está acontecendo desde 30 de novembro e segue até 12 de dezembro em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Mas quão fundamental é essa conferência?
Antes de mais nada, é necessário evidenciar que o mote da COP 28 será o debate sobre as mudanças climáticas, mais especificamente o impulsionamento da transição energética para fontes mais limpas e a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), objetivando limitar o aumento da temperatura global em 1,5° acima dos níveis pré-industriais até 2030.
Mitigar os riscos climáticos é emergencial, já que se não agirmos, o planeta será impactado de forma profunda. Para compreender a gravidade do tema, é necessário destacar três eixos vitais que deverão ser discutidos ao longo dessa agenda.
Confira agora cada um deles.
Comunidades:
O olhar para as mudanças climáticas não pode deixar de contemplar o impacto direto na vida de inúmeras pessoas, premissa que se comprova, por exemplo, nos dados divulgados pela WRI – desde 2008, fatores catastróficos já fizeram com que mais de 20 milhões de pessoas precisassem abandonar suas casas a cada ano. Além disso, quase metade da população global sofre por insegurança hídrica ao menos uma vez por mês, todos os anos.
Somado a isso, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o número de pessoas em situação de extrema pobreza pode chegar a 132 milhões até a próxima década, agravando ainda mais o risco de insegurança alimentar.
Tudo isso demonstra que as mudanças climáticas podem acentuar os conflitos e a vulnerabilidade de inúmeras pessoas, especialmente das 3,3 bilhões que vivem em países com mais propensão de sofrer com esses impactos, ainda de acordo com o levantamento da WRI.
Segundo a UNICEF Brasil, as mudanças climáticas afetam diretamente o sucesso de sobrevivência, crescimento e prosperidade das crianças, maioria acometida por doenças vinculadas às mudanças climáticas (90%), ainda quando menores de 5 anos de idade.
Tudo isso vai requerer adaptações aos países, que precisam estruturar maneiras eficientes de lidar com os desafios que já se apresentam.
Nesse sentido, a COP 28 se coloca como um movimento vital para que os líderes mundiais discutam as priorizações e ações que devem ser realizadas para o tema.
Meio Ambiente:
Os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente já são claramente visíveis e, segundo o Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA, o mês de julho deste ano já se configurou como o mais quente observado em escala global. Fatos como esse evidenciam a necessidade de cooperação entre os países para que iniciativas sejam tomadas de modo equitativo e conjunto.
Os impactos já analisados passam pela alteração da média global da temperatura, desequilíbrio dos ciclos hidrológicos, desertificação, efeitos no ecossistema e biodiversidade, variações do nível do mar, entre diversas outras consequências que também afetam diretamente as vertentes econômica e de comunidades locais.
Práticas como a economia circular e modelos de desenvolvimento focados em baixo carbono constituem um olhar sistêmico e podem contribuir com a concretização de meios de produção mais sustentáveis, reduzindo a geração de resíduos e a extração de matérias-primas, por exemplo. Esse olhar ampliado também é essencial para a redução das pressões ambientais e emissões de gases de efeito estufa.
Economia:
Uma economia ancorada em eventos climáticos extremos apresenta muitos riscos para a sua estabilidade e solidez, pois diversas atividades dependem dos recursos naturais, tais como: disponibilidade de água, condições adequadas de solo e temperatura, entre outras externalidades.
Dados da Swiss Re de 2021 demonstram que as mudanças climáticas podem representar uma perda mundial de 10% do valor econômico total – número extremamente preocupante que expressa o valor da transformação para um modelo econômico mais efetivo, norteado para uma transição para baixo carbono, preservando as florestas, os recursos naturais e a biodiversidade, planejando e adequando a infraestrutura de maneira mais resiliente e sustentável que possa promover a inovação por meio de tecnologias que minimizem a emissão de gases de efeito estufa.
Nesse cenário, o relatório “Uma Nova Economia para uma Nova Era: Elementos para a Construção de uma Economia Mais Eficiente e Resiliente para o Brasil” da WRI Brasil, reforça que o modelo de desenvolvimento baseado em uma economia de baixo carbono pode ser oportuno também para o Brasil em termos de impulsionamento da inovação industrial, agricultura sustentável, infraestrutura de qualidade e economicamente inteligente. Tudo isso também proporciona mais resiliência e oportunidades comerciais.
No cenário Brasil, de acordo com o Business as Usual (BAU), até 2030, a adoção de práticas sustentáveis de baixo carbono podem representar um aumento expressivo no PIB, com reflexos de ganhos estimados de R$ 2,8 trilhões, geração de mais de 2 milhões de empregos, restauração de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas, redução de 42% nas emissões de gases de efeito estufa em 2025, entre outras vantagens para o Brasil.
A tecnologia como aliada para a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas
Com tantos desafios à frente, se faz necessário aliar a evolução tecnológica para o enfrentamento atual projetado para as próximas décadas, já que as decisões executadas agora impactarão de maneira profunda todo o planeta. Consequentemente, o fomento de tecnologias e inovações é essencial para que possamos reverter esse quadro com investimento em transição energética para que uma economia de baixo carbono seja colocada em prática.
Por isso as chamadas Tecnologias Emergentes – inovações constantemente desenvolvidas no setor tecnológico – são fundamentais.
Segundo o relatório “Riesgos y oportunidades de las tecnologías emergentes en la década climática 2020”, da Digital Future Society, se bem implementadas, as tecnologias emergentes poderão contribuir com a transição para uma matriz energética voltada a fontes mais renováveis. Cenário em que apoiarão o alcance de 103 dos 169 Objetivos da agenda 2030da ONU, sendo também essenciais para endossar a transformação para um modelo de desenvolvimento mais circular que poderá reduzir em até 10 vezes as emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, elas podem facilitar o monitoramento da alteração dos padrões climáticos observados para que haja a possibilidade de tomar decisões mais ágeis que possam contribuir para a prevenção de danos maiores para as populações mais vulneráveis, por exemplo, ou até mesmo trazer dados concretos para fortalecer discursos em prol de mudanças no padrão de desenvolvimento que agravam a situação de emergência climática.
Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) também pode ser uma aliada no suporte para diversas frentes, a exemplo dos modelos preditivos de emissões de gases de efeito estufa. Isso pode ser aplicado na cadeia de abastecimento das empresas para que seja possível identificar quais mecanismos precisam ser executados para tornar a produção mais sustentável.
Com tantos dados e fatos, é inegável que os desafios são inúmeros. Nesse sentido, a COP 28 promete ser uma conferência marcante para debater os temas que se relacionam com a transição energética, o financiamento climático, as comunidades a fim de trazer alternativas para que as ambições humanas aconteçam de maneira sustentável e inclusiva, pautadas em uma agenda climática coletiva com compromissos para o enfrentamento da urgência climática.
Seguimos atentos a essa agenda e você também pode acompanhar de perto através da página oficial da COP 28.
Por Michele Veiga, analista de sustentabilidade na Vivo.