A série Adolescência, lançada recentemente na Netflix, trouxe à tona os perigos e os impactos causados aos jovens pela cultura incel. Este fenômeno, que tem sido amplamente disseminado nas comunidades online pelos seus adeptos, culpam as mulheres por não conseguirem estabelecer relacionamentos românticos e/ou sexuais e utilizam desse argumento para justificar a misoginia (o ódio às mulheres) e feminicídio cometidos por eles.
Na ficção, um menino de 13 anos é acusado de ser o responsável pelo assassinato de uma colega da escola. O pano de fundo do crime é a cultura incel e é a partir disso que a trama se desenrola. E é pela urgência deste tema que estamos aqui. Hoje, vamos falar sobre:
- O que á cultura incel;
- Como lidar quando temos pessoas incel no trabalho?
- O que prestar atenção na hora de falar com os filhos sobre a cultura incel?
Não é um tema fácil, mas juntos vamos trazer consciência sobre o tema para que possamos criar um mundo mais respeitoso para todos.
Boa leitura!
O que é Cultura Incel?
O termo “incel” é de 1990, é uma abreviação de “involuntary celibate”, que em tradução livre significa“celibatários involuntários”. Nesse sentido, a cultura incel faz referência aos discursos misóginos propagados em comunidades online por pessoas, predominantemente homens heterossexuais, que se consideram incapazes de estabelecer relacionamentos românticos ou sexuais, apesar do desejo por tais conexões.
Os adeptos, também chamados de incels, utilizam do argumento de que as mulheres são interesseiras e oportunistas, que se preocupam apenas com dinheiro e aparência — além de serem caracterizadas por eles como promíscuas e manipuladoras —, sendo, por isso, responsáveis pelo seu fracasso sexual.
Embora o discurso machista e de ódio às mulheres seja propagado há décadas em todo o mundo, a violência contra as mulheres ganhou força e novos contornos com a chegada da internet e uso das redes sociais.
Exemplo disso é o caso que ocorreu em 2021, publicado na BBC. Um jovem de 22 anos, conhecido como Jake Davison, tirou a vida de 5 pessoas no norte da Inglaterra. Nos vídeos publicados na internet por ele, o rapaz afirmava que vivia isolado e as mulheres eram as responsáveis pela sua dificuldade de se relacionar afetivamente.
Características dos grupos
As comunidades, muitas vezes encontradas em fóruns e redes sociais, compartilham dessa visão de mundo de Jake, que é profundamente marcada por misoginia, autocomiseração e, em casos extremos, apologia à violência. Especialistas defendem que atração dos jovens por esse tipo de discurso está relacionada a alguns fatores, aos quais incluem:
- Pressões sociais por seguir determinados padrões de masculinidade e heteronormatividade (homens devem ser fortes, viris, “pegadores” e sempre superiores às mulheres);
- Sentimentos de isolamento;
- Baixa autoestima;
- Dificuldades em relacionamentos interpessoais;
- Busca por pertencimento.
Como lidar com uma pessoa no trabalho que se alinha à Cultura Incel?
Embora nem todos os homens que estejam alinhados à cultura incel expressem comportamentos violentos, é muito importante estar atento a alguns sinais, como misoginia, isolamento social, discurso de ódio, que podem se manifestar de formas mais discretas no ambiente de trabalho.
Fazer essa identificação ajuda a combater de forma mais rápida esses comportamentos, tornando o espaço profissional mais respeitoso, mais diversificado e inclusivo. Por isso, se você é um gestor ou líder de uma empresa, essas dicas são para você:
1. Promova uma cultura inclusiva e diversificada
Para combater a cultura do incel no trabalho, é preciso construir um espaço inclusivo e diversificado, para que todos se sintam seguros física e emocionalmente. Algumas estratégias, nesse sentido, incluem:
- Garantir contratações de mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e de indivíduos inseridos em diferentes contextos sociais;
- Estabelecer normas claras contra discriminação e assédio;
- Transmitir segurança aos profissionais, para que, a qualquer tipo de abuso, eles se sintam confortáveis em comunicar a você;
- Em caso de denúncias, realizar as investigações e tomar as devidas providências.
2. Ofereça treinamentos, palestras, capacitações e rodas de conversa
Outra estratégia de transformação muito potente é a educação no ambiente de trabalho. Você pode oferecer treinamentos, palestras, capacitações e até mesmo organizar rodas de conversa para discutir com os funcionários sobre os impactos da discriminação, do preconceito e da masculinidade tóxica na vida profissional e pessoal de cada um.
3. Crie canais de comunicação abertos
Além de transmitir segurança aos profissionais, para que eles se sintam confortáveis de conversar com você sobre algum abuso sofrido dentro do ambiente de trabalho, é importante também estabelecer canais de comunicação abertos para denúncia.
Esses canais, sejam eles físicos ou online, precisam ser seguros, a fim de que os funcionários possam relatar comportamentos inadequados de forma anônima e sem medo de sofrer retaliações ou perseguições.
4. Tome providências na esfera civil, administrativa e/ou criminal
Caso as denúncias sejam confirmadas, não se omita jamais. Tome as devidas providências, que podem ser na esfera civil, administrativa e/ou criminal, e deixe claro para todos os funcionários que situações de discriminação, assédio e violência não serão toleradas e que as pessoas serão devidamente responsabilizadas.
5. Mantenha o diálogo com profissionais de recursos humanos e psicólogos
Os profissionais de recursos humanos e psicólogos podem fornecer estratégias específicas para lidar com comportamentos desafiadores e promover um ambiente de trabalho saudável. Por isso, mantenha o diálogo com eles e trabalhe conjuntamente para combater a cultura incel.
6. Converse com os seus funcionários
Por fim, e muito importante: esteja aberto a conversar sempre com os seus funcionários. E, caso algum deles expresse ideias alinhadas à cultura incel, aborde a situação com empatia, oferecendo recursos de apoio e orientação.
E na hora de conversar com meus filhos sobre cultura incel, o que devo prestar atenção?
Agora, se você é pai ou mãe e não sabe o que fazer para evitar que seus filhos apresentem comportamentos alinhados à cultura incel, saiba que a comunicação aberta e o apoio emocional são fundamentais para ajudá-los. Veja abaixo algumas dicas:
1. Seja um exemplo de respeito
Além de ensinar desde cedo aos seus filhos sobre a importância de respeitar as mulheres, os negros, a sexualidade, o gênero e todo tipo de diversidade, é importante também ser exemplo. Por isso, é importante sempre estar atento a algumas coisas, como:
- Não propagar preconceitos e discriminações em casa e nem em outros ambientes;
- Construir relacionamentos saudáveis com todas as pessoas;
- Consumir com os filhos conteúdos que prezam pela diversidade;
- Levá-los a lugares que possuam diferentes tipos de pessoas.
2. Incentive o diálogo aberto
Crie um ambiente onde os seus filhos se sintam confortáveis para compartilhar suas experiências e preocupações, sem medo de julgamento ou punições.
3. Ofereça apoio emocional
Esteja disponível para ouvir e apoiar os seus filhos em momentos de frustração ou insegurança, reforçando sua autoestima e bem-estar emocional.
4. Monitore o uso da internet e das redes sociais
Esteja sempre atento aos comportamentos online, monitorando o uso da internet e redes sociais dos seus filhos. Aqui é também importante estabelecer alguns limites, como horários de uso, para evitar o isolamento extremo, o desenvolvimento de depressão e outros problemas psicológicos.
5. Caso necessário, busque ajuda profissional
Se você percebeu alguns sinais, como isolamento extremo, depressão ou manifestações de violência, considere procurar orientação de psicólogos ou conselheiros especializados para conduzir da melhor forma a situação e preservar a saúde mental dos seus filhos.
A cultura incel representa um desafio complexo que exige compreensão, informação e ação por parte da sociedade. Mas, com a devida atenção e abordagem empática, é possível criar ambientes e pessoas respeitosas, que prezam pela diversidade e inclusão. Acompanhe todas as nossas dicas do Dialogando e seja você um agente de mudança na sua casa, no seu trabalho e em todos os espaços coletivos.
Até a próxima!
