Redes sociais não são chocolate, mas têm uma coisa que até parece viciante, não é mesmo?
Quando bem usadas, contribuem demais para os relacionamentos humanos. É gostoso poder acompanhar o que um amigo ou parente que mora longe anda fazendo, ou, de repente, poder descobrir onde está um paquera no sábado à noite para aparecer, “sem querer”, por lá.
Sem contar que elas fazem circular muito conteúdo interessante: de notícias (e aqui não falamos, claro, das fake news) às dicas de estilo e culinária, memes engraçadíssimos e conteúdo de pets nas mais hilárias situações. Tem de tudo!
Só que tem gente que entra e sai dessas plataformas o dia inteiro e, quando se dá conta, percebe que passou mais tempo bisbilhotando os stories alheios do que fazendo qualquer outra coisa.
Se você assistiu “O Dilema das Redes” – documentário da Netflix que reúne depoimentos de ex-funcionários e executivos do Google, Facebook e Twitter – sabe que o vício em redes sociais é o que norteia toda a construção dessas plataformas, que contam com o protagonismo do famoso like.
O problema é que o sentimento de postar uma foto, vídeo ou storie tem uma face em comum: a ansiedade.
Bombando ou não de likes, o ato gera muitas expectativas. Se essas expectativas são favoráveis, muitas pessoas vão querer repetir esse feito. E se não são, vão da mesma forma. Tudo porque o like, segundo especialistas, tem se mostrado equivalente a retornos relacionados a dinheiro. Só que, nesse cenário, acabam funcionando como recompensas sociais.
No final, o que essas pessoas querem mesmo é contar com o sentimento de que são aceitas pelos amigos e colegas do seu núcleo virtual, e isso pode render uma série de impactos na saúde mental.
Redes sociais: o que leva ao vício?
Embora muitos psiquiatras avaliem que a maioria das pessoas usa as redes de forma saudável, outras parecem ser exponencialmente mais atraídas e acabam perdendo o controle sobre elas.
E isso tudo porque as curtidas e notificações frequentes, aliadas às suas interfaces quase sempre bonitas e de fácil usabilidade, são projetadas justamente para promover a repetição do uso: ativam substâncias químicas do cérebro que despertam a sensação de “quero mais” nas mesmas regiões cerebrais associadas ao vício em substâncias ilícitas.
Nesse cenário, os riscos são maiores para crianças entre 10 e 12 anos, faixa etária em que o cérebro aumenta a capacidade de receber sinais da dopamina e da oxitocina, os chamados “hormônios da felicidade” – neurotransmissores capazes de gerar sensações como alegria, recompensa e bem-estar.
Por isso, nessa idade o anseio por atenção, visibilidade e a busca por um espaço dentro de um grupo social pode ser muito maior e a dependência pelas redes sociais pode seguir no mesmo ritmo.
A grama do vizinho…
É tudo muito paradoxal porque, ao mesmo tempo que as redes sociais abriram um mundo de possibilidades, quebrando distâncias e criando conexões com novas pessoas de forma praticamente instantânea, elas também reduziram a capacidade humana de estreitar laços.
A falta do olho no olho presencial aumentou o sentimento de solidão para parte de um público que, hoje, luta contra a depressão e outros problemas emocionais.
Não é incomum ver casais sentados à mesa de um restaurante sem conversar, cada um vidrado em seu próprio dispositivo eletrônico, ou grupos de amigos “juntos” na mesma situação distante. Retratos de que as interações físicas diminuíram.
A preocupação de muitos especialistas é que essas plataformas podem criar um universo paralelo, porque a tendência é que seus usuários acreditem que os likes representam o verdadeiro sentimento das pessoas e que tudo o que passa no feed é real.
Só que eles não sabem que, por trás da foto de colegas e famílias sorrindo, muitas vezes há quem esconda ou maquie uma série de problemas comuns à vida de todo cidadão normal. Exatamente como elas, provavelmente, fazem nas redes sociais.
Tudo isso acaba afetando a autoestima de usuários que consideram que tudo o que veem na internet é verdade, mesmo as situações falsas, travestidas de alegria.
Resultado: vem à tona aquele velho sentimento de que a grama do vizinho é melhor, e aí, começam a comparar a vida dos outros com a própria vida, considerando claro que a do outro é muito melhor. Esse autoboicote é muito comum, especialmente na adolescência. Daí a atenção maior que mães e pais devem ter com o relacionamento de seus filhos com essas plataformas.
Mas como saber se tenho vício em redes sociais?
Usar as redes sociais não é sinal de que você tem um vício e que está sendo prejudicado. De maneira alguma. Mas é necessário estar atento a alguns comportamentos e sinais:
- Se você passa longas jornadas verificando as redes;
- Se o uso delas prejudica outras atividades do seu dia a dia;
- Se percebe alteração de humor quando é obrigado a passar muito tempo sem acessá-las;
- Se prefere ficar logado mesmo quando está com amigos à sua volta.
Havendo qualquer um desses sintomas, vale reavaliar sua relação com essas plataformas:
- Desative as notificações e comece estabelecendo momentos em que se dedicará a elas, com limite de tempo. Relaxe! Perca o receio de perder algo caso não consiga verificar o telefone;
- Aumente suas interações pessoais fora do mundo das interfaces digitais e deixe de lado seu celular nessas ocasiões.
Confira mais dicas em um bate-papo incrível com Carla Furtado, Diretora Executiva do Instituto Feliciência no podcast Bem-estar digital: a adoção de novas culturas pela manutenção da saúde mental e física.
Você vai ver que o mundo pode ser muito interessante quando o like pode ser verbalizado a um amigo ou amiga que caprichou no look para vocês estarem juntos, no rolê, por aí!
Já teve sua fase de vício mas se libertou? Então, conte nos comentários quais foram os seus métodos! Suas dicas podem ser valiosas para muitas pessoas.