A sociedade de hoje não é a mesma de 30 anos atrás, quando a internet discada, por exemplo, tomava um tempão de nossas vidas para baixar um arquivo de poucos Kbytes.
De geração em geração são renovadas nossas expectativas, ambições, valores, prioridades e focos. Daí a necessidade de pensarmos em novos modelos de gestão, cada vez mais pautados na motivação dos indivíduos e na agilidade dos processos.
Por isso, ainda que as metodologias ágeis tenham sido desenhadas para otimizar projetos de tecnologia, elas vêm sendo aproveitadas em qualquer área, inclusive na educação.
Mas o que são, afinal?
Metodologias ágeis: como surgiram
Há problemas comuns a quase todas as organizações que precisam gerenciar projetos: desde as etapas muitos longas de produção até problemas de comunicação entre equipes e clientes.
Em 2001, essa realidade motivou um grupo de 17 desenvolvedores a pensar em novas abordagens em gerenciamento de projetos. Deste encontro nasceu o Manifesto Ágil, documento que oficializou a existência das metodologias ágeis, estabelecendo seus princípios. Os principais:
a) Comunicação: coloca as pessoas e a interação entre elas antes dos processos e ferramentas;
b) Praticidade: coloca o bom funcionamento de softwares como tendo importância maior que a necessidade de documentação abrangente;
c) Alinhamento de expectativas e colaboração: valoriza mais a colaboração com o cliente e membros do projeto que a negociação de contratos;
d) Adaptabilidade e flexibilidade: considera que a resposta às mudanças é mais importante que seguir um plano previamente estabelecido
No meio empresarial, notou-se que a aplicação dos princípios listados acima agilizou e melhorou a qualidade das entregas, com maior alinhamento entre times, clientes e a rápida resolução de possíveis conflitos.
Quer um exemplo?
Em 11 de setembro de 2001, quando os Estados Unidos sofreram o maior ataque a seu território desde o bombardeio japonês à base de Pearl Harbor (no Havaí, em 1941), o FBI e o governo americano decidiram criar um software cujo objetivo era rastrear possíveis ocorrências terroristas antes que elas acontecessem.
A execução do projeto foi iniciada com aprovação de orçamento de U$ 170 milhões. Em 2006, seu custo já era de U$ 600 milhões, mas a inovação apresentou uma série de problemas e não foi para frente.
A segunda tentativa, com a aplicação de mais U$ 405 milhões repetiu os mesmos problemas que a anterior.
Em 2010, com a mudança para a metodologia ágil – agora com abordagens interativas e sprints bem definidos, ou seja, cada uma das fases do projeto estipuladas em espaços de tempo – a inovação foi, finalmente, entregue pelo menor custo total do projeto em relação às tentativas anteriores.
Foi acionada uma nova liderança que reduziu a equipe envolvida de 400 para 45 pessoas. Antes da aplicação da metodologia, 90% do investimento já tinha sido gasto, e o software foi, então, desenvolvido apenas com o montante restante.
Hoje, o projeto, chamado de Sentinela, opera de forma eficaz no combate ao terrorismo. Resumindo: foram dez anos de trabalhos feitos em doze meses.
Metodologias ágeis na educação: protagonismo e adaptabilidade
As metodologias ágeis na educação colocam a colaboração e a flexibilidade à frente de um planejamento rígido amparado por ferramentas organizacionais. As etapas de ensino e aprendizagem são definidas e avaliadas durante o processo e, conforme os obstáculos se apresentam, é possível organizar intervenções ou mudar a rota antes do resultado final.
Tudo isso porque a agilidade, em si, tornou-se uma competência fundamental no mundo VUCA — sigla em inglês das palavras Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade). Os quatro conceitos descrevem o universo moderno da tecnologia que vem impulsionando mudanças muito rápidas em que, diante das incertezas, ser ágil e flexível pode ser a melhor forma de responder a tantas transformações.
Mas não confunda agilidade com um meio para pular processos. Porque aqui, ser mais rápido é sinônimo de adaptabilidade para que haja, enfim, o uso mais assertivo do tempo.
Pense que, o objetivo central é dar maior protagonismo a educandos, apoiando uma estrutura que direciona a criatividade para um objetivo de aprendizagem que mantém a ideia da disciplina, mas não como em um exército, onde não há qualquer alternativa de escolha.
Afinal, na prática, o modelo de gestão tradicional muitas vezes impede o aluno de ter seu problema resolvido simplesmente porque o sistema definido não aceita exceções. Método que quase sempre colabora para o desestímulo dos estudantes.
Os princípios das metodologias ágeis na educação
Segundo Juliana Machado, gerente de comunidades de aprendizagem e cofundadora do centro de aprendizagem autodirigida ALC São Paulo, quatro princípios são estabelecidos na aplicação da metodologia na educação. Entenda:
a) Interações à frente de processos: aprendizagem viva, que se baseia nas interações mais do que no plano de aula.
b) Aprendizagem acima de documentação: uso de ferramentas que permitem documentar a aprendizagem enquanto ela acontece.
c) Colaboração acima de hierarquias: contribuir com o processo de aprendizagem acima do reforço de hierarquias.
d) Responder a mudanças: flexibilidade para mudar as abordagens ao longo do processo.
A orientação da especialista para os gestores que pretendem começar a aplicar a metodologia no ensino é começar pequeno, com atividades pontuais, não em todo o currículo. Para os educadores, ela sugere que busquem uma rede de apoio que possa motivá-los a inovar nas práticas pedagógicas, mesmo se essa comunidade estiver fora da instituição de ensino.
Na prática, sugerimos ao educador “quebrar” os objetivos em pequenas partes e organizar a entrega das atividades das equipes por ordem de prioridade.
Instrua os times a discutirem entre seus membros o período de duração de cada ciclo (o mesmo conceito das sprints mencionado acima!) e sinalize, a partir disso, que podem partir para a execução das tarefas, fazendo os ajustes necessários para a adequação em reuniões diárias.
Na etapa final do ciclo, os estudantes devem fazer uma retrospectiva do que foi feito, autoavaliando os processos. No encerramento, cada equipe apresenta seu trabalho.
3 ferramentas ágeis para usar nas escolas
Kanban: um dos métodos ágeis mais conhecidos do mundo, trata-se de um painel simplificado que, acima de tudo, traz transparência, um dos pilares das metodologias ágeis.
As tarefas são divididas em três colunas. Na primeira, entram as tarefas “a fazer”. Na coluna do meio, as tarefas “fazendo” e, na terceira coluna, as tarefas “feitas”. A vantagem para o planejamento do professor e para os estudantes é que o conteúdo fica visível para que todos entendam as metas a serem atingidas e saibam como está o progresso geral para o alcance dessas metas.
Scrum: mais detalhado que o Kanban, também funciona por meio de painéis, mas o método trabalha com equipes que contam com um líder no processo e atividades com limite de tempo, chamadas de “sprints”.
Uma sprint pode durar de 1 a 4 semanas e são rastreadas no Quadro de Scrum, que geralmente divide as atividades em cinco colunas: História, A fazer, Fazendo, A testar, Feito.
Para trabalhar com Scrum, quem assume o papel da liderança deve ter ampla compreensão de sua equipe, uma vez que deverá ter bem definida a atuação de cada pessoa envolvida na tarefa.
Design Thinking: o processo de criação em equipe é um dos principais elementos do design thinking para os educadores. É elaborado em 5 etapas, que podem ser inseridas de forma independente. São elas: Descoberta, Interpretação, Ideação, Experimentação e Evolução. Cada etapa é precedida de uma pergunta: “como posso abordá-lo?”, “como posso interpretá-lo?”, “como posso criar?”, “como posso concretizá-lo?” e “como posso aprimorá-lo?”.
A ferramenta é utilizada para colocar as pessoas no centro da resolução de problemas e vem colaborando para que os educadores possam envolver os estudantes na formulação de hipóteses para uma investigação mais colaborativa.
Dialogando indica
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O Dialogando indica o livro Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática, dos autores Liliam Bacich e José Moran (Penso Editora – 260 páginas).
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