Não tem como não sentir vergonha alheia de quem pratica o capacitismo – a discriminação de pessoas com deficiência baseada na construção social de um corpo padrão, considerado “normal”. Por mera ignorância (ou perversidade mesmo!) o ato de subestimar a capacidade e aptidão de quem não parece “comum” agrava bastante essa forma de preconceito.
E olha que a lista de preconceitos contra pessoas consideradas “diferentes” é longa! Se é alguém muito alto ou muito baixo, muitas vezes já é o suficiente para virar alvo de piadas. Se é muito magro ou gordo, preto, cis, intersexo ou binário, também. Até se a pessoa é mais velha “tem alguma coisa errada”. Como se o envelhecer não fosse o projeto do amanhã de todos nós.
No eixo perverso do capacitismo, imagine ouvir frases como “você é uma cruz para a sua mãe” após a descoberta de uma doença genética que dificulta os movimentos.
Momentos iguais a esse fizeram parte da vida e estão guardados na memória da influencer, modelo e atriz Maria Paula Vieira, de 30 anos – jovem cadeirante há 10 anos, que já percebia problemas de locomoção desde pequenininha.
Aos 3, foi acometida por um distúrbio raro que atrofiou seus pés e suas mãos. Mas a surpresa não a impediu de realizar um sonho: ser fotógrafa! Hoje, seus flashes registram mulheres diversas, focando na beleza dos corpos, na autoestima de suas clientes e dela própria.
A sabedoria popular diz, há muito tempo, que o mundo precisa das diferenças como combustível para evoluir e, até que enfim, temos o que comemorar: vivemos um momento especial – vários grupos se unem, muitas vezes, graças à internet, para pedir respeito e defender a liberdade.
Publicar histórias de celebração no combate ao preconceito é uma das bandeiras do Dialogando e de toda a Vivo, então, se você, antes de tudo, vê beleza nas pessoas, fique, porque hoje vamos conhecer personalidades necessárias à frente da luta por direitos e a diversidade de corpos.
Capacitismo X Diversidade de Corpos
Tem muita gente atuando no ringue contra o preconceito encalacrado em nossa sociedade e a história da talentosíssima fotógrafa, que é também jornalista, é só mais uma que desbanca as “teorias” dos defensores da “anormalidade” das pessoas com deficiência.
Claro que essa pauta gera desgastes emocionais aos montes para quem sente na pele o preconceito. Maria Clara, por exemplo, conta que é comum ver seu namorado recebendo elogios como se fosse um herói por estar com ela e ter assumido a relação publicamente.
Mas pense com a gente: o que torna uma pessoa bonita? Pode ser tanta coisa, não é mesmo?
O conceito do belo para nós e para você pode ser absolutamente diferente, e isso é ótimo! Chato seria se todo mundo se obrigasse a se enquadrar em um mesmo padrão estético — aliás, será que alguém seria bonito se todo mundo fosse igual?
E mesmo se a beleza fosse um fator decisivo para a gente se relacionar… são os olhos claros e corpos esguios vendidos nas revistas que garantem a felicidade ou a capacidade de que as pessoas se respeitem, com cumplicidade e afeto?
Até isso já foi colocado em xeque ao longo da jornada de nossa fotógrafa.
“O deficiente é visto como uma pessoa feia, que não possui beleza alguma… Mas isso não é verdade. Já chegaram para mim e falaram ‘nossa, você é cadeirante? Mas é tão bonita…’”, relata.
Nas redes sociais de Maria Clara, ela traz o debate sobre o capacitismo em várias formas. E suas palestras rendem reflexões necessárias nos eixos:
- Capacitismo e representatividade: A invisibilidade das pessoas com deficiência na arte e na moda;
- Representatividade das pessoas com deficiência: da televisão à publicidade;
- Feminismo: Empoderamento e violência da mulher com deficiência;
- O lugar da pessoa com deficiência na fotografia e no audiovisual;
- Tem pós, mestrado e doutorado, mas é inculto em diversidade. Onde começa a mudança?
Apenas aceite: não tem como deixar de seguir esse perfil!
No Planalto e avante!
Quem faz um barulho bom e absolutamente necessário nas redes é também Ivan Baron, e se você assistiu à última posse presidencial pode ser que o reconheça.
Ivan subiu a rampa do Planalto na entrega da faixa do presidente Lula em 1º de janeiro deste ano e foi consultor de acessibilidade do Festival do Futuro, evento que rolou durante a comemoração.
Em fevereiro, foi anunciado embaixador da Campanha Nacional de Vacinação por Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.
Sua história joga luzes para a necessidade dos cuidados com nossa alimentação. Aos 3 anos, após uma infecção alimentar, ele pegou uma meningite viral que trouxe fortes consequências: a paralisia cerebral, responsável por sua deficiência física e mobilidade reduzida.
Mas Ivan, que é do Rio Grande do Norte, não perdeu o gás, não! Seguiu com os estudos na rede pública, ingressou na faculdade de nutrição, mas descobriu sua vocação: a pedagogia.
Como bom pedagogo que é, vem usando o ativismo aplicado ao ensino. Em suas postagens, mostra a sua rotina de forma educativa, divertida e com exemplos de capacitismo em diversos cenários.
O resultado? Só sucesso! Agora Baron palestra por todo o país levando consciência para quem se julga perfeito em defesa do anticapacitismo, da acessibilidade e da inclusão.
Se não seguiu ainda, a gente entrega mastigado. Só aperte o link!
Cegueira e racismo
Tem quem os desafios ultrapassem o terreno do capacitismo, caso de Nathalia Santos, mulher preta que ainda briga contra o racismo.
Aos 30 anos e com uma legião de 120 mil seguidores, a jornalista carioca é um dos nomes mais importantes dessas correntes. Ficou completamente cega aos 15 devido ao quadro de retinose pigmentar, doença que causa a degeneração da retina.
Mas a condição não a impediu de voar.
Em 2014, ela ingressou na faculdade e, paralelamente, passou a palestrar. No ano seguinte, trabalhou no Esquenta e na Globonews como repórter e produtora. A jornada dupla foi até 2016 e, no final do ensino superior, começou a estagiar na área administrativa de uma multinacional. Por lá ficou por dois anos, até voltar para a TV.
Nathalia chegou ao Multishow e, pouco depois, foi emprestada ao Globoplay como assistente de direção da novela Todas as Flores. Sorte da atriz Sophie Charlotte, que viveu a personagem Maíra, portadora de deficiência visual.
Com tanto repertório de vida, ela atribui às suas “diferenças” todo o seu processo de emancipação e sucesso.
“Sou uma bandeira de diversidade ambulante, não tem como ignorar meus rótulos. Sou mulher, periférica, negra e com deficiência. A riqueza de minha presença em um projeto é a multiplicidade de olhar que eu tenho, de tantos recortes”, avalia.
Mãe de dois filhos, ela ainda afirma que o preconceito é um dos maiores entraves para a inclusão plena de pessoas negras e pessoas com deficiência, seja o tom de pele que for, e no seu canal Como assim cega? no YouTube e nas redes sociais mostra ao mundo sua maneira não convencional – mas fantasticamente possível – de enxergar a vida – motivos que lhe renderam o título de uma das mulheres mais influentes do país pela revista Vogue.
Esse trio, claro, é uma pequena amostra de todo o time que vem contribuindo para a disseminação das bandeiras pela diversidade de corpos na luta contra o capacitismo. Mas à frente do combate de toda e qualquer forma de discriminação, tem muita gente operando para que todo tipo de corpo, cor de pele, orientação sexual e de gênero possa viver em sociedade com respeito e as mesmas oportunidades daqueles que um dia passaram a ditar o que seria o tal padrão “normal”.
Em breve a gente volta trazendo personalidades necessárias à frente de tantas outras defesas legítimas para que possamos caminhar rumo à construção de um mundo mais igualitário e justo. Enquanto isso, nos ajude a engrossar esse caldo, nos comentários – conte lá para a gente qual o influencer digital à frente dessa causa que você mais admira, vai!
A Maria Paula e o Ivan ganharam uma nova seguidora e aliada. Conteúdo necessário e muito bom. Parabéns! 👏🏼