O mundo da moda sempre foi alvo de muitas críticas.
Ativistas pela aceitação dos corpos põem na conta do setor as frustrações carregadas por muitas mulheres por não terem o “corpo perfeito”. Justo. Afinal, as relações do universo fashion sempre ditaram padrões estéticos muito aquém da realidade desenhada na genética da maioria dos habitantes do planeta.
Mas o estágio coletivo de consciência vem mudando. De poucos anos para cá, fashionistas passaram a incluir nas passarelas e revistas – ainda que de forma tímida – mulheres com ou sem as dobrinhas que muita gente ainda luta para perder nas academias.
O estímulo às compras, que nem sempre precisamos quando já temos mais de 5, 6 ou 10 pares de calçados, também jogou luz a novos debates acerca da sustentabilidade. E que bom! Porque os números impressionam.
Moda e tecnologia em missão pela sustentabilidade
Estima-se que a indústria da moda seja a segunda maior consumidora de água, segundo a Global Fashion Agenda (1,5 trilhão de litros por ano). E isso porque para produzir as peças em ritmo tão acelerado, as empresas consomem muito mais recursos naturais e insumos químicos para a fabricação de roupas.
Essa dinâmica, que prevalece no ramo, é conhecida por fast fashion, e se baseia na oferta constante de produtos de tendência a preços muito baixos.
Números atualizados da Fundação Ellen McArthur – organização estabelecida em 2010 com a missão de acelerar a transição rumo à economia regenerativa e restaurativa – dão conta de que a produção de roupas dobrou nos últimos 15 anos.
73% dos resíduos têxteis do setor são queimados ou têm seu fim nos aterros sanitários. Apenas 12% são reciclados, quase sempre triturados para o enchimento de colchões. Neste cenário, menos de 1% dos resíduos são utilizados para a fabricação de novas roupas.
No entanto, consumidores cobram a adoção de novas culturas, reivindicação que já vem surtindo alguns efeitos.
Nova consciência
Os danos irreversíveis à natureza alavancados pelo modelo fast fashion, dentre outros promovidos pelo setor – tais como a degradação social em regiões distintas do planeta e o desrespeito às condições dignas de trabalho – estão na mira dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU (Organização das Nações Unidas).
Dentre as 17 metas estabelecidas no documento, o ODS 12 tem relação direta com essa pauta, pois define que os padrões de produção e de consumo sustentável com redução de produtos químicos e de resíduos devem ser assegurados até 2030. E um dos caminhos para alcançar este objetivo é unir moda e tecnologia em busca da aceleração desse processo.
Fashion desafios
Um dos maiores desafios da moda e da indústria têxtil da atualidade vem sendo a busca por inovações que consigam transformar a cadeia e o processo de produção menos cruel com o meio ambiente.
Neste sentido, a pandemia acelerou este processo e, se a tecnologia não foi ainda a solução definitiva para a sustentabilidade, ela já colaborou para a mudança de cenário do setor.
Confira as boas novas promovidas pelas inovações tecnológicas no indesejado período pandêmico que, no final, acabou protagonizando o avanço de toda a sociedade rumo a um mundo mais sustentável.
Compras on-line
Até quem tinha receio de transacionar valores pela internet cedeu ao e-commerce com a chegada do “novo mundo”.
Dezembro de 2020 registrou alta de 53,83% nas compras virtuais em relação ao mesmo período de 2019. O primeiro trimestre de 2021 acompanhou a curva positiva, com alta de 57,4% em comparação ao mesmo período de 2020. Os dados são do índice MCC-ENET.
Neste movimento, a preferência pela moda sustentável também cresceu, como mostram os dados do Google de busca pelas sessões eco friendly das plataformas digitais, além das pesquisas or termos como “moda sustentável” e correlatos.
Eventos híbridos
As capitais consideradas “da moda” no mundo viram o número de visitantes de seus desfiles crescer exponencialmente ao adotarem as exibições híbridas de desfiles.
O famoso Helsinki Fashion Week da Finlândia, por exemplo, já estava na vanguarda quando lançou, em 2018, o projeto Eco Village e, na pandemia, lançou um cyberspace que deu acesso a filmes em 3D de moda, com transmissões ao vivo para o público do mundo inteiro.
Como resultado, em comparação com os desfiles físicos de sua estreia, que contou com cerca de 8.000 visitantes, o evento viu esse número crescer para 719.000 pessoas.
Diversidade
Moda e tecnologia também podem representar inclusão. A plataforma Digi-gxl, rede global em defesa das mulheres, trans, intersex e não binárias, manteve seu protagonismo em função das pautas por inclusão e diversidade que entram no eixo da sustentabilidade social.
A organização, especializada em design e animação 3D, ofereceu suporte gratuito, no auge da pandemia, para as comunidades citadas acima, projeto que, meses depois, valeu a entrega de uma passarela totalmente digital para a London Fashion Week, com modelos de todas as raças e gêneros.
O trabalho não parou por aí. Agora, com a criação do Instituto de Moda Digital, a Digi-gxl continua em missão pelo apoio de jovens criativos no design, a fim de fomentar a indústria sustentável por meio de novas tecnologias, com orientação e mentoria gratuitas.
Conectividade
Um novo movimento foi iniciado a partir da junção entre moda e tecnologia que, ao longo desse período, foi definitivo para unir pessoas e colaborar para que essa indústria crie experiências mais inclusivas e sustentáveis.
Há muito a ser feito? Sem dúvida. Mas a pandemia pode ter sido um passo importante para que o setor e toda a sociedade entendam que passou da hora de olharmos para o futuro da mesma forma como nos paqueramos em frente ao espelho depois de fazer a escolha pelo look “bafônico” que nos levará para aquele evento ou festa tão esperada: com respeito.
Que não nos falte respeito e admiração pelo planeta, que nos proporciona absolutamente tudo o que precisamos sem que precisemos cometer excessos na aquisição de roupas e calçados.