Mais de 200 anos de história foram literalmente queimados no último dia 2 de setembro, quando o belíssimo prédio do Museu Nacional, no Rio de janeiro, sofreu um incêndio de grandes proporções. Ainda não se sabe a extensão total dos danos, mas a estimativa é de que 90% de seu acervo, com mais de 20 milhões de itens catalogados em áreas como zoologia, arqueologia, botânica e antropologia, tenha sido danificado, incluindo o crânio de Luzia, o fóssil mais antigo do Brasil. Uma pequena parcela dos artefatos passou por tomografias desde o ano 2000, compondo um arquivo tridimensional, e agora uma força-tarefa de pesquisadores pretende usar a impressão em 3D para recompor esses elementos. Inovações tecnológicasjá são usadas com o mesmo propósito: digitalizar para preservar – e poderiam ter feito toda a diferença nesta verdadeira tragédia, anunciada pela falta crônica de investimentos no patrimônio cultural brasileiro.
Criada em 2014 por uma empresa especializada em tecnologia de impressão 3D, a iniciativa Scan The World tem como objetivo digitalizar em modelos 3D as mais importantes obras de arte disponíveis nos acervos dos maiores museus do mundo, permitindo que possam ser reproduzidas posteriormente para os mais diversos fins. Acessível a especialistas e interessados em geral, a plataforma já acumula mais de 21 mil horas de escaneamento de 12.711 peças de valor histórico incalculável em instituições como o Museu do Louvre, em Paris, o Getty Center, em Los Angeles, e até mesmo o Vaticano, em Roma. Cada objeto é registrado pelo método da fotogrametria, que reconstrói o espaço tridimensional a partir de imagens bidimensionais, com a composição de cerca de 50 fotografias digitais sobrepostas.
Já o projeto Open Heritage, capitaneado pelo Google em parceria com a organização sem fins lucrativos CyArk, tem como meta desenvolver um arquivo digital permanente e tridimensional dos principais monumentos e sítios arqueológicos do planeta. São utilizados recursos como o Lidar (sistema de mapeamento a laser instalado em veículos autônomos), fotogrametria e drones. A ideia é que esse banco de dados ajude inclusive a reconstruir esse acervo em caso de danos – propositais ou não. A ONG foi fundada por Ben Kacyra, depois de ter testemunhado a destruição por terroristas de estátuas budistas com mais de 1.500 anos no Afeganistão. No acervo há, por exemplo, a recriação em realidade virtual do templo de Ananda Ok Kyaung, na Birmânia, no sul da Ásia, registrado antes que um terremoto provocasse seu desmoronamento em 2016. Para visualizar os arquivos, os usuários podem baixar o aplicativo do Google Arts & Culture, disponível em iOS e Android, além de solicitar o download para ações educativas ou mesmo programas de restauração.