Em 2017, a ONG SaferNet recebeu 63.698 denúncias anônimas envolvendo 32.936 páginas na internet, sendo 63% relacionadas a discursos de ódio. Nos casos atendidos pelo canal de ajuda da entidade, a maior demanda foram situações de ciberbullying e ofensas, com 359 ocorrências. O panorama no Brasil reflete um problema global. Segundo o Cyberbullying Research Center, quase metade dos adolescentes no mundo já sofreu algum tipo de intimidação ou agressão na rede, sendo que entre 10% e 20% passam por isso regularmente. Ações deflagradas por instituições, personalidades e ativistas pretendem promover maior conscientização para tentar mudar esse triste panorama.
“É preocupante ver que, mesmo com a maior divulgação, informação, legislação pertinente e canais de denúncia, ainda há uma cultura crescente de ódio que se dissemina na internet, com a banalização desses discursos, intolerância, apologia à violência e preconceito”, destaca o diretor de educação da SaferNet, Rodrigo Nejm. “O fato é que crianças e adolescentes muitas vezes reproduzem o comportamento dos adultos que, protegidos pela distância do ambiente digital, onde não se vê ali diretamente a reação emocional do outro, propagam ideias afeitas ao racismo, violência contra a mulher ou homofobia.É uma crise de civilidade que vivemos, isso está diretamente associado à expansão do ciberbullying”, diz.
Para a SaferNet, o contra-ataque é a melhor defesa para essa disseminação, mas com armas pacíficas. Em parceria com o Google e a Unicef Brasil, a ONG lançou este ano o SaferLab, um laboratório de ideias para a produção de contranarrativas de enfrentamento aos discursos de ódio e que levem a importância da diversidade para a rede. Para isso, jovens de 16 a 25 anos puderam se inscrever para participar de um processo de formação e mentoria, concorrendo depois a bolsas que vão de R$ 1,5 mil a R$ 12 mil para custear e colocar em prática as 10 melhores sugestões. A primeira etapa, com orientações on-line para todos os inscritos, já foi concluída, e agora 150 classificados integrarão as sessões presenciais para o desenvolvimento dos projetos, submetidos posteriormente aos jurados.
Já a ONG Cybersmile recorreu a um expediente incomum: convidou a blogueira fitness Chessie King para uma ação especial que demonstrasse na prática os possíveis danos do ciberbullying. Para cada comentário agressivo e depreciativo sobre suas fotos no Instagram, ela deveria retocar sua imagem no Photoshop, alterando tudo o que fosse criticado em sua aparência. As fotos finais ficaram irreconhecíveis, mas a violência que faz parte do dia a dia de muita gente ficou evidente.
Denúncias podem ser feitas na Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos