“Pós-verdade” foi eleita a palavra de 2016 pelo renomado Dicionário Oxford. Fugindo um pouco do padrão dos anos anteriores, a editora de dicionários da instituição britânica escolheu um termo que figurou as discussões políticas no lugar de palavras mais usadas no contexto cultural ou cotidiano. Em 2015, a palavra eleita foi um emoji – aquele que chora de tanto rir – e esse ano o termo escolhido significa “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença pessoal”. Uma diferença drástica, não é mesmo?
Essa escolha reflete o momento político importante que vivemos – só esse ano tivemos o impeachment presidencial no Brasil, a saída do Reino Unido da União Europeia, as eleições presidenciais americanas, o impasse nas eleições gerais na Espanha, o acordo de paz com as FARC na Colômbia, entre outras situações. Mas também diz muito sobre a maneira como nos relacionamos com esse momento e a realidade permeada pela tecnologia tem muito a ver com isso.
Podemos dizer que uma definição mais direta de “pós-verdade” é “a verdade em segundo plano”. Por isso, esse termo foi usado muitas vezes para definir uma época em que as pessoas valorizam mais suas opiniões que os fatos na hora de discutir política. Ao pensar nos textões de Facebook ou nas discussões nos grupos de família no Whatsapp, essa definição soa muito familiar. Muitas vezes as informações divulgadas por esses meios não têm fundamento na realidade, mas são efetivas para inflamar os sentimentos e incentivar posições extremas. Essa é uma estratégia amplamente usada no passado, mas é na era da pós-verdade que ela gera resultados reais: nem mesmo as denúncias desses conteúdos falsos foram capazes de influenciar a opinião das pessoas.
É importante notar como as redes sociais têm um impacto direto na maneira como esses boatos se espalham. No Facebook, por exemplo, existem dois fatores bem relevantes para pensarmos em como as notícias falsas ganham legitimidade: o seu algoritmo não só privilegia a exibição de pontos de vista que se parecem com o seu, como dá preferência para os posts de familiares e amigos no lugar das publicações feitas por veículos de informação. Nas demais redes de compartilhamento de conteúdos, as informações também chegam até nós por meio de conhecidos em quem confiamos, o que já atribui uma legitimidade a elas, sendo reais ou não.
A escolha da palavra do ano parece ir além de um retrato do nosso momento atual, é um chamado à reflexão. Já entendemos que a insatisfação com a realidade é tão grande que a verdade perde a importância. Mas qual é o preço que pagamos por isso, enquanto sociedade? E em um nível pessoal, será possível fazer uma oposição à pós-verdade?