Situação: quarta-feira. Quatro amigos na pausa para o almoço, em um restaurante próximo, gostosinho, aberto recentemente na rua da “firma”. Isa e Laura pediram um prato bem light – filé de frango grelhado com uma saladinha de tomate e pepino. Não querem reconquistar as calorias perdidas pela manhã, na academia.
O meio da semana traz, no cardápio, um prato de origem africana tradicionalíssimo: a feijoada. Claro que a Camila e o Luca vão partir pra “feijuca”.
Pedidos lançados. Começa aquele bate-papo gostoso sobre o reality show e a próxima série do streaming que vêm por aí.
Enquanto a dupla menos light bate-papo, Isa está concentrada no feed do Insta, quando Laura diz:
Laura – Cadê o grupo do zap do BBB 23? Quero me alienar!
Camila – Te adicionei aí, Lau. Mas eu nem acredito que a HBO liberou o sinal para a estreia de The Last of Us! Sábado vai ter maratona, SIM!
Luca – Já deixo avisado que serei um fã insuportável. Hahaha!
Camila – Você não assina, né, Isa? Quer que eu te passe minha senha? Sério. Sem The Last of Us vai te faltar assunto daqui pra frente!
Isa – (…)
Camila – Isa?
Isa – Oi? Não ouvi. Diga!
Cenas como essa se tornaram bastante comuns desde que abandonamos a função “chamada telefônica” dos celulares e nossos dispositivos viraram praticamente computadores, não é mesmo?
E essa prática, considerada por muitas pessoas deselegante, mal-educada e desrespeitosa, já tem um nome: phubbing. O termo é derivado da junção da palavra phone (celular) com snubbing (esnobar), e o comportamento vem chamando cada vez mais a atenção de especialistas.
Entenda!
Phubbing: a origem do termo
A expressão foi criada em 2012, na Austrália, por incentivo da McCann – rede global norte-americana de agências de publicidade –, que pediu a ajuda de autores, poetas e lexicógrafos (especialistas na elaboração de dicionários) para cunhar um neologismo capaz de descrever esse comportamento “indelicado”, para dizer o mínimo.
O termo acabou pegando e a conduta “phubber” virou alvo de inúmeros estudos após se popularizar na campanha Stop Phubbing, desenvolvida pela própria McCann.
Phubbing X Saúde Mental
Terapeutas de casais já dizem que o celular, como terceiro elemento das relações, é a maior queixa de cônjuges: duplas outrora apaixonadas, agora reclamam que o parceiro “não presta atenção” no que dizem, nem se interessa mais pela companhia.
A universidade de Baylor, nos Estados Unidos, perguntou para um grupo de 143 pessoas quais eram os impactos do uso do celular na vida a dois. 70% disseram que o aparelho interfere “às vezes”, “frequentemente”, “muito frequentemente” ou “o tempo todo”.
O estudo considera ainda que há relação direta entre o phubbing e a depressão, já que a insatisfação no relacionamento abala a satisfação com a própria vida pessoal. Alguns terapeutas rebatem e afirmam que a presença do “terceiro elemento” pode aumentar o sentimento de estar deprimido, sem necessariamente causar a depressão, mesmo nas relações entre amigos.
Se deprimido ou depressivo, apenas avaliações médicas são capazes de responder. No todo, o hábito de “phubbar” quem está ao nosso lado merece atenção especial por estar associado a outro neologismo de ordem mental, agora ligado à ansiedade. A…
Nomofobia
‘No’ (não) + ‘mo’bile (celular) + ‘fobia’ (medo). Está aí a origem do novo termo, também associado aos problemas de ordem emocional.
Você já sentiu que estava perdendo algo por estar longe do celular? Como se a distância entre suas mãos e o aparelho te fizesse ficar por fora de TODOS os acontecimentos?
É sobre isso.
O phubbing pode estar ligado à nomofobia, síndrome também conhecida como FOMO, do inglês Fear of Missing Out ou “medo de ficar por fora”, na tradução.
Já falamos por aqui dessa sigla, que tem a ansiedade como seu principal sintoma e que, segundo psicólogos, trata-se do momento em que a tecnologia rouba uma série de prioridades da vida das pessoas.
E olha que maluco! No podcast FoMO, Fear of Missing Out, também mostramos que a própria tecnologia pode passar de vilã à mocinha e ajudar quem tem FOMO a desencanar um pouco das redes. Ouça e entenda no link!
Mas, voltando às regras de etiqueta…
A educação e o carinho em primeiro lugar!
Todas as vezes em que a gente marca uma balada ou encontro com um bom e velho amigo após receber aquela mensagem gostosa de “estou morrendo de saudades”, vale a pena repensar nossa conduta diante o celular: será que as postagens do feed do Insta valem mais que a presença de alguém que nutre enorme carinho por você e quer te ver bem de verdade?
Talvez você nem seja dessa época, mas quando o mundo era analógico, o maior divertimento das pessoas era socializar.
Quando o sentimento era de maior segurança nas cidades, as noites de verão levavam a vizinhança para as calçadas. Mães e pais ficavam horas ali, sentados nas cadeiras resgatadas da cozinha, batendo papo, enquanto a garotada andava de bike ou brincava de pega-pega na rua, e acredite: era gostoso DEMAIS!
Muitas pessoas não falam, mas se sentem desrespeitadas quando você fica lá, ligadão no smartphone.
Agora, reflita!
Você gosta de se sentir desprestigiado? De falar algo que considera importante e ninguém te dar ouvidos? A gente sabe que não!
Por isso, agora que as pessoas falam mais em empatia, pense que se alguém se sente incomodado com algo, é bom ficar ligado. Especialmente neste momento delicado em que a pandemia gerou flagelos incalculáveis à vida emocional de muuuita gente, que está tentando se recuperar do dramático período do isolamento social até hoje.
Claro que a gente sabe que ninguém sai por aí “phubbando” as pessoas por maldade. Mas se porventura esse for o seu comportamento, te fazemos um convite: não perca a oportunidade de dar o carinho mais gratuito do mundo para as pessoas – ouvi-las!
Já aproveite pra conferir o podcast Bem-estar digital – a adoção de novas culturas pela manutenção da saúde física e mental. Tudo pelo equilíbrio entre o abraço físico e o tecla-tecla virtual!