Tecnologia pode ajudar no tratamento da depressão

7 de abril de 2017

– Por que é que você me pede tanta aspirina? Não estou reclamando, embora isso custe dinheiro.
– É para eu não me doer.
– Como é que é? Hein? Você se dói?
– Eu me doo o tempo todo.
– Aonde?
– Dentro, não sei explicar.”

O diálogo entre Glória e Macabéa – a protagonista de “A hora da Estrela”, de Clarice Lispector – reveste de dramática poesia um dos maiores mistérios da ciência, as doenças e transtornos psíquicos.

A depressão de Macabéa era um enigma não só para ela como para a sociedade, que frequentemente reage com preconceito a algo que dói, mas não se sabe onde, que não passa com analgésico e que não aparece em exame de sangue nem em radiografia.

A tecnologia, porém, tem dado passos cada vez mais consistentes para ajudar a medicina a melhorar a vida das pessoas com depressão e transtorno similares, enquanto não se descobre mais sobre suas causas mais profundas.

TMS

O TMS – sigla em inglês para “estimulação magnética transcraniana” – é uma tecnologia não invasiva que estimula determinadas células nervosas associadas à depressão.

Aprovado pelo FDA (Federal Drug Administration), o órgão do governo americano que regula medicamentos e alimentos, é o primeiro tratamento já desenvolvido capaz de afetar circuitos específicos do cérebro para o tratamento da depressão.

Ele cria um campo magnético ao redor da cabeça tão forte quanto o de uma ressonância magnética, mas que dura apenas meio milissegundo.

O tratamento é feito no consultório e não requer anestesia. Cada sessão dura pouco mais de meia hora e deve ser feita cinco vezes por semana, por um mês e meio para mostrar resultados. Não apresenta nenhum efeito colateral.

ENV

A ENV (Estimulação do Nervo Vago) consiste no uso de uma espécie de marca-passo, implantado do lado esquerdo do peito, que gera pulsos para o nervo vago – que fica do lado esquerdo do pescoço e é um dos principais elos de comunicação dos órgãos do corpo com o cérebro.

O FDA aprova o uso do ENV para pessoas acima de 18 anos, após tentativas frustradas com tratamentos convencionais para depressão e transtorno bipolar. Essa técnica, no entanto, tem alguns efeitos colaterais moderados, mas temporários, como rouquidão, tosse contínua e leve falta de ar em exercícios físicos.

Computer Based Training

Parece um jogo, é divertido como um jogo, mas não é exatamente um jogo – embora tenha sido criado para iPad. O Computer Based Training (ou treino cognitivo baseado em computador, em português) tem dado melhores resultados com esquizofrenia, mas também é utilizado para depressão e Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).

O paciente se vê diante do desafio de executar uma tarefa, que vai ficando cada vez mais difícil. O que ele não sabe é que aquele jogo está estimulando uma função cognitiva específica para que a pessoa fique cada vez mais rápida e precisa naquela área em que ela está sendo treinada. O resultado é um comportamento mais adequado em situações semelhantes da vida diária.

“Esse tratamento não cura, mas os medicamentos que existem hoje em dia também não”, afirma Amit Etkin, professor de psiquiatria da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Etkin é um grande entusiasta do uso da tecnologia no tratamento de problemas psíquicos, mas diz que é preciso haver um rompimento com o status quo na ciência.

Psiquiatras vão ter que trabalhar lado a lado com neurocientistas, engenheiros, psicólogos e vários outros profissionais. E isso vai demandar a criação de uma nova cultura científica.”, adverte.

“Depressão: vamos conversar” é o lema da campanha do Dia Mundial da Saúde, celebrado no dia 7 de abril pela Organização Mundial da Saúde. O intuito da ação é acabar com o estigma desta doença que afeta 5,8% da população brasileira. De acordo com a OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão da América Latina.

Por isso, é importante estar atento aos sintomas da depressão e, em caso de necessidade, procurar ajuda profissional.

Fonte: Dialogando - Tecnologia pode ajudar no tratamento da depressão Dialogando

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