Vamos supor (e pode bater na madeira três vezes, por via das dúvidas) que a prefeitura da sua cidade decidisse desligar toda a iluminação pública para economizar recursos em tempos de crise. Você voltaria a pé para casa à noite inseguro, sem enxergar um palmo adiante do seu nariz. Talvez nem encontrasse sua rua na escuridão total. Mas um gato passando a seu lado, caso pensasse e falasse, poderia dizer: “Bem que poderiam colocar luz no caminho dos coitados desses deficientes”. Pode parecer brincadeira, mas não é. Para o gato, você é um deficiente visual e físico, para dizer o mínimo. Precisa de escada para subir um muro e entrar em casa.
Pelo raciocínio do gato, caso ele raciocinasse, bem entendido, você e um cadeirante são igualmente deficientes, pois ambos precisam que o mundo se adapte e crie condições para vocês viverem. Mas por que há iluminação pública para um e faltam rampas para outro? “Uma pessoa que usa uma cadeira de rodas pode ter uma limitação de mobilidade específica, mas é a falta de uma rampa que causa a deficiência”, afirma Mike Kent, chefe do departamento de estudos da internet da Universidade Curtin, na Austrália. “A deficiência, no entanto, é ativada de uma forma diferente online.”
Segundo ele, a internet proporciona ambientes diferentes. “Para pessoas com várias limitações, o acesso à internet não é uma experiência incapacitante”, diz Kent. Segundo o professor, para essas pessoas a internet oferece muitas oportunidades para trabalho, lazer e negócios. “O acesso a tecnologias digitais de comunicação pode aumentar a sensação de independência e a autodeterminação de pessoas com deficiência, sem precisar sair de casa”, afirma ele, para quem as barreiras inerentes ao ambiente físico podem ser removidas”, reduzindo a discriminação.
Kent pondera que a informática continua sendo desenvolvida sem que se pense nas pessoas com deficiência e que os principais avanços não comtemplam essa parte da população mundial, que passa de 1 bilhão de pessoas – 80% deles em países em desenvolvimento, segundo a Organização Mundial da Saúde. Para ele, assim como nas ruas, a acessibilidade ao universo de recursos da internet depende muito da criação de recursos, aceitando que o problema não é do deficiente, mas de quem constrói o mundo. E isso é mais comum no ambiente virtual. É cada vez maior o número de programas e plataformas criativas que mudam a vida de portadores de deficiência.
Para deficientes visuais, por exemplo, há o Depict, que tem como base uma das mais maravilhosas características da internet: a colaboração e o crowdsourcing. Trata-se de uma extensão que se instala no computador. A ferramenta é para descrição de imagens. Se o usuário clica numa imagem, voluntários em qualquer lugar do mundo fazem a descrição, que é falada para a pessoa com deficiência visual. A mais votada vai ser usada para os próximos que passarem o mouse sobre aquela foto.
E há várias outras ferramentas, até made in Brazil. A Universidade de Brasília desenvolveu um software bilíngue para surdos – partindo do pressuposto que a língua de sinais e o português são, na prática, dois idiomas. Já a Universidade Federal do Rio de Janeiro criou o Motrix, um programa que permite que pessoas com deficiências motoras graves, como tetraplegia e distrofia muscular, possam ter acesso à internet para escrever, ler, se comunicar e até jogar. Ativado por comando de voz, o computador realiza a parte motora. Sem a internet, nada disso seria possível. E, assim como esses programas, não faltam diversos outros recursos apoiados na internet, gratuitos, capazes de construir rampas digitais.
Bacana.
muito bom o seu post parabens pelo artigo
Eu já tinha ouvido falar que existia um dispositivo dessa forma daí eu procurei no Google encontrei vocês perfeita sem lente
Que bacana, Elvis! Confira mais matérias no nosso portal. 😉