“Deleite-se com a imprevisibilidade de um bate-papo aleatório por vídeo” é a frase que aparece já na home do OmeTV. Se você percebeu qualquer semelhança com o modus operandi do Omegle – a polêmica rede social extinta em novembro, 14 anos depois de receber inúmeras condenações por estupro virtual de menores – não foi por mera coincidência.
OmeTV oferece serviços semelhantes, mas não são afiliadas. A plataforma foi desenvolvida por uma empresa chamada Video Chat Alternative (VCA), mas os nomes de seus desenvolvedores não são conhecidos publicamente.
Falamos de um aplicativo gratuito disponível para Android, iOS e na versão web que permite fazer novas amizades usando a câmera dos dispositivos eletrônicos. Por lá, pessoas do mundo inteiro se conectam à plataforma de bate-papo aleatório.
Quem era fã do Omegle não sabia se estava falando com alguém em um porão na Alemanha ou no Brasil. O OmeTV permite saber onde está a pessoa com quem você está interagindo e a diferença entre as línguas não é um impedimento: ele oferece tradução instantânea com recursos de texto, permitindo a seus usuários conversar facilmente com alguém que fala um idioma diferente.
Facilmente MESMO, já que, pelo browser, por exemplo, começar a conversar não requer qualquer inscrição, nem envolve passos complexos.
Entenda.
Como usar o OmeTV?
Tudo de que você precisa fazer é:
- Ir até a página inicial do OmeTV.
- Apertar o botão Iniciar, na parte superior da página inicial.
- Clicar em Configurações, do lado direito da tela.
- Escolher o idioma e mencionar se deseja que as mensagens sejam traduzidas ou não.
Após a escolha, basta clicar em Login, ação possível por meio de um rápido login pelo Facebook mesmo.
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O OmeTV é seguro? Alerta aos pais
Sempre que houver a possibilidade de conversar com estranhos (seja por texto, voz ou vídeo), pais, mães e responsáveis devem estar cientes de que essas plataformas não são seguras para crianças e adolescentes.
Perceba no triste caso do extinto Omegle.
Um promotor do Rio Grande do Sul conseguiu a primeira condenação por estupro virtual no Brasil – uma criança paulista de 10 anos abordada no chat por um adulto.
O pequeno entrou, sozinho, em 2015, na plataforma e conheceu o usuário que usava o codinome Pedro Dalsch, de 27 anos. Só que, na verdade, ele estava diante de um predador sexual de Porto Alegre que acabaria preso três anos depois.
As conversas entre os dois migraram para outras plataformas virtuais, onde trocavam mensagens com frequência e o criminoso fazia solicitações sexuais para o menino por meio da câmera.
Os abusos foram descobertos pelo pai quando ele acessou as redes sociais da criança por meio do computador que ambos usavam. Sua denúncia chegou ao Ministério Público do Rio Grande do Sul, estado de residência do criminoso, que já fazia parte de um sistema de combate à pedofilia junto à Polícia Federal.
No Google Play e na Apple Store, o OmeTV menciona que não é recomendado para menores de 17 anos, mas acima você viu as facilidades de acesso ao seu chat, não é mesmo?
Nesse cenário, vale a reflexão. Será que o ambiente das redes sociais (qualquer uma delas, no caso) é positivo e necessário para uma criança?
O pai do exemplo acima se arrepende de ter aberto as portas desse mundo para o filho, claro, até hoje.
Avaliações de usuários adultos do OmeTV
A fim de entender quais eram os pontos fortes e fracos da ferramenta, buscamos uma série de avaliações de usuários adultos da plataforma. Selecionamos algumas delas para o seu conhecimento.
#PraTodosVerem: print do comentário de um usuário denunciando a presença de crianças no chat do OmeTV e ainda fazendo críticas sobre o outras funcionalidades da plataforma.
Outras problemáticas do OmeTV
Mesmo que os desenvolvedores do OmeTV afirmem que “o app monitora violações das regras de bate-papo automaticamente”, será mesmo que as conversas por vídeo podem ser monitoradas 24 horas por dia, 7 dias por semana?
Aliás, quem estaria salvaguardando a privacidade até dos adultos que exploram a plataforma com conteúdo sexual se esse monitoramento, de fato, acontecesse?
Nem os usuários que estão ali apenas para fazer novas amizades estão imunes a receber fotos explícitas, como você conferiu nos depoimentos, já que é possível anexar arquivos por meio das conversas de texto com essas pessoas desconhecidas com quem estão interagindo.
Além disso, são oferecidas compras no aplicativo, recurso que pode não ser seguro quando são expostas senhas bancárias e contas de cartão.
Ou seja, no todo, a plataforma traz tudo do que pais desejam que seus filhos fiquem longe.
Segurança dos dados do OmeTV
Além de dados pessoais bancários, conheça mais informações oferecidas pelos desenvolvedores sobre os tipos de dados que o app coleta e compartilha.
As práticas relacionadas podem variar de acordo com a versão do app, o uso, a região e a idade do usuário.
Dados compartilhados:
- Local aproximado onde se encontram seus usuários;
- Mensagens no app;
- Fotos e vídeos;
- Áudio (gravações de voz ou sons).
Dados coletados:
- Informações pessoais – IDs de usuários e endereço de e-mail (opcional);
- Informações financeiras (histórico de compras);
- Mensagens no app;
- Fotos e vídeos;
- Áudio (gravações de voz ou sons);
- Mensagens de interações no app;
- Registros de falhas e diagnósticos;
- Identificadores do dispositivo e outros.
Seus desenvolvedores afirmam que os dados são criptografados em trânsito, transferidos por uma conexão segura e que seus usuários podem solicitar a exclusão dos dados a qualquer momento.
De qualquer forma, saber o que você permite ou não compartilhar com qualquer empresa nos dias atuais é sua própria responsabilidade, por isso já alertamos por aqui os perigos de apertar nos termos de uso sem ler.
Trabalhamos frequentemente para trazer dicas para que mães e pais se engajem na educação digital de crianças e adolescentes, a primeira delas é: seja amigo de seu filho, até para que ele tenha confiança para não esconder de você qualquer situação em que não se sinta confortável.
Saiba mais no post e junte-se a nós nesse movimento legítimo de construção de uma internet mais positiva para todos e todas!
Se você se identificou com os casos citados aqui, acha que foi vitima de um crime virtual ou ainda se resolver desbravar o app e alguma situação suspeita ocorrer, você pode entrar em contato com a Safernet, serviço gratuito de orientação sobre crimes e violações dos Direitos Humanos na internet, de forma anônima e sigilosa.