Você vai a uma festa de casamento com o seu par. Você não conhece quase ninguém. Afinal, são todos amigos dela, ex-colegas de trabalho. Ao chegar lá, sua companheira fica feliz de rever tantas pessoas. Fala com um, conversa com outro e é arrastada por um grupo para ver sabe-se lá quem do outro lado do salão. Você fica parado como um poste esperando que ela volte, até porque não tem para onde ir. Quando ela retorna, a conversa entre vocês não dura muito. No meio de uma história que você está contando tentando se animar aparece alguém, nem olha na sua cara e começa a conversar com ela entusiasmado demais para o seu gosto. E ela nem se dá ao trabalho de apresentá-los. Você se aguenta impávido, mas em casa começa uma briga. Você se sentiu desmerecido, desvalorizado e desprezado. Está destruído, entre outras palavras que começam com a mesma sílaba.
A cena acima só não pode ser chamada de hipotética porque acontece com muita frequência. Se você nunca passou por algo parecido, é bem possível que um dia ainda se sinta assim, digamos, desprestigiado. O lado bom é que essa situação desagradável acaba junto com a festa. Mas e quando algo do tipo acontece em casa, por exemplo? E quando você está assistindo a um filme no sofá e sua sala é invadida por amigos dela que entram não pela porta, mas pelo smartphone? “O problema não está no uso de celular, mas sim no relacionamento psicológico que a pessoa tem com ele”, diz Matthew Lapierre, professor da Universidade do Arizona que conduziu uma pesquisa sobre a influência dos celulares nos relacionamentos afetivos.
Segundo ele, o ciúme não é de quem seu companheiro ou companheira está conversando, mas do aparelho em si. “Os smartphones são fundamentalmente diferentes de tecnologias anteriores e por isso seus efeitos são muito mais fortes.” De acordo com o estudo, o ciúme na festa de casamento é completamente diferente do ciúme durante o filme no sofá, porque a questão não é o quanto o seu par usa o celular, mas o quanto ele é apegado ao aparelho. A pesquisa, publicada na revista científica Psychology of Popular Media Culture e conduzida com 170 universitários, sugere que quanto mais a pessoa se sente dependente do smartphone, mais ela tem dúvidas sobre o seu relacionamento. Já seus parceiros demonstram insatisfação e tristeza maiores na mesma proporção.
Outra pesquisa publicada na mesma revista, realizada em conjunto pela Universidade Estadual da Pennsylvania e pela Universidade Brigham Young de Utah, chega a conclusões semelhantes. Feita apenas com mulheres, o estudo diz que 62% das entrevistadas afirmam que seus namorados checam o celular durante uma conversa com elas e que 25% teclam. Os cientistas concluíram que mesmo em doses pequenas, a interferência do celular durante uma conversa pode levar a outra pessoa a sentir rejeição por tecnologia, empobrece a qualidade da relação, diminui a sensação de felicidade com a vida e aumenta o risco de depressão.
Uma das pesquisadoras-chefe do estudo, Sarah Coyne, admite que ela mesma usa o celular de forma compulsiva às vezes. “É meio louco uma pesquisadora do tema dizer isso, mas o fato é que, se deixarmos, esses aparelhos podem mandar na nossa vida”, afirma. Segundo ela, é aos poucos que o uso do smartphone mina um relacionamento afetivo. O simples fato de colocar o telefone em cima da mesa de um bar e olhar para ele de vez em quando já é sinal de dependência – e magoa o companheiro. Afinal, por que ele precisa olhar para o telefone que está lá quietinho? Por isso, ela dá três conselhos para evitar que um aparelho contamine e acabe com um namoro ou casamento:
1 – Quando estiver com seu parceiro ou parceira, coloque o aparelho no modo silencioso, longe, na bolsa ou numa gaveta, para conseguir focar apenas na outra pessoa que está com você;
2 – Se você precisar pegar o celular, que seja por algo realmente importante naquele momento. Mas antes peça licença, explique o motivo e aí então use o aparelho;
3 – Não entre na defensiva e tente se justificar se seu parceiro reclamar da sua relação com o smartphone. Ele só quer sua atenção.