Como a discussão sobre adultização mostra a importância da união entre família, sociedade e regulação nas redes sociais?

3 de setembro de 2025

Nos últimos meses, o tema da adultização infantil ganhou força nas redes sociais após o influenciador Felca denunciar influenciadores digitais que exploram crianças e adolescentes na internet. Essa discussão, que não deve ser somente passageira, é um alerta sobre como a infância está sendo impactada e como tudo isso pode vir a comprometer o desenvolvimento integral dos jovens e crianças. 

Assim, mais do que uma preocupação moral, trata-se de uma questão de saúde física, emocional e psicológica. Por isso, entender o assunto é essencial para proteger os direitos da infância e garantir que meninos e meninas possam viver plenamente cada etapa da vida. É entendendo essa importância que hoje vamos falar sobre:

  • O que é adultização;
  • Como a sociedade colabora no processo?
  • Como combater a adultização infantil no núcleo familiar?
  • Como lidar com a influência de tecnologias na adultização precoce?

Boa leitura! 

O que é adultização infantil?

Jovem com cabelo ruivo fazendo maquiagem em frente a um espelho, com equipamento de streaming e produtos de beleza sobre a mesa

Considerada uma forma de exploração, a adultização infantil ocorre quando comportamentos, responsabilidades ou expectativas de adultos são impostos às crianças de forma precoce. Isso pode incluir desde tarefas domésticas complexas até pressões relacionadas à estética e à sexualidade. 

Na internet, a adultização infantil ocorre por meio do uso da imagem, do corpo e da vivência de meninos e meninas com a finalidade de gerar lucro, audiência e entretenimento, sem levar em consideração o bem-estar e o respeito dessas pessoas em formação.

Desde 1990, especialistas alertam sobre os impactos dessa exposição para o desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. De acordo com eles, o estímulo à sexualidade precoce, a pressão estética e, sobretudo, a incorporação de comportamentos que não condizem com a idade pode fazer com que meninas e meninos desenvolvam:

  • Ansiedade e estresse;
  • Baixa autoestima;
  • Depressão;
  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);
  • Problemas comportamentais.

Além disso, os jovens acabam perdendo a infância, pois são obrigados a trocar as brincadeiras por comportamentos que não condizem com a sua etapa de vida; e também ficam mais vulneráveis a situações de abuso e exploração, já que são vistos como “mais maduros” do que realmente são.

Como a sociedade colabora no processo?

A adultização não acontece apenas no ambiente familiar. A sociedade como um todo exerce pressões diretas e indiretas que moldam a forma como crianças se veem e são vistas.

Naturalização de comportamentos inadequados

Muitos comportamentos de adultização infantil são culturalmente naturalizados. É comum ouvir frases como “é só uma brincadeira” ou “eles crescem rápido mesmo”. Essa normalização cria uma falsa ideia de que não há problema em expor crianças a situações que deveriam estar restritas ao universo adulto.

Exemplo disso é quando alguém aplaude uma menina dançando de forma sensual em festas ou ri quando um menino é incentivado a “ter namoradinhas”. Agir desse modo só reforça que esses comportamentos são aceitáveis socialmente e que está tudo bem endossar atitudes que não correspondem à idade das crianças.

Comportamentos que achamos normais mas são adultização

Muitas atitudes presentes no dia a dia passam despercebidas, mas configuram formas de adultização, como:

  • Atribuir responsabilidades parentais, como o cuidado dos irmãos mais novos a uma criança, é uma carga emocional precoce;
  • Incentivar ou comemorar relacionamentos infantis pode confundir a noção de afeto e sexualidade;
  • Crianças expostas a rotinas de trabalho, mesmo em ambientes digitais (com a criação de conteúdos sobre sua rotina, aparência ou uso de linguagem de adultos, incentivo à sensualização, uso de maquiagens pesadas etc.), sofrem pressões que ultrapassam o brincar;
  • Roupas, brinquedos e conteúdos midiáticos que estimulam padrões adultos em crianças reforçam a ideia de que elas devem se comportar como “miniaturas” de adultos;
  • Desafios de dança sensuais nas redes sociais (coreografias, desafios e encenações com conotação sexual), fazendo com que cada vez mais crianças participem de trends em plataformas digitais que não condizem com sua faixa etária.

Como combater a adultização infantil no núcleo familiar?

Uma mãe com óculos usando um suéter cinza abraçando carinhosamente uma criança com camisa listrada amarela e branca em um ambiente externo com árvores desfocadas ao fundo

Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja claro no que diz respeito à criminalização à exposição sexual de menores, a internet traz desafios enormes tanto para a justiça, que ainda não possui uma tipificação específica para a adultização digital no ordenamento jurídico brasileiro, quanto para a sociedade como um todo.

Nesse sentido, a família desempenha um papel central no enfrentamento à adultização infantil. Para te ajudar, separamos algumas dicas de como os pais, as mães e cuidadores podem proteger as crianças no dia a dia:

Conscientização sobre o que é adultização

Reconhecer que pequenos atos do dia a dia podem estar adultizando a criança é o primeiro passo. É importante refletir sobre atitudes que já estão enraizadas e, a partir disso, evitar que meninos e meninas passem por esse tipo de situação.

Mudança de comportamento 

Ao conscientizar sobre questões relacionadas à adultização infantil,  é importante evitar falas como “você já é grande, precisa cuidar do irmão” ou “está na hora de namorar” e ficar atento para chamar atenção de adultos que também fazem esse tipo de comentário. Afinal, crianças aprendem mais pelo que veem do que pelo que ouvem. 

Cuidadores devem ser modelos de comportamento saudável, equilibrado e respeitoso.

Atuação ativa dos pais

Estabelecer limites claros e oferecer espaços de escuta ajudam a criança a se sentir acolhida e respeitada. Além disso, o papel dos pais faz com que eles precisem estar atentos e agir na prevenção contra grupos perigosos.

Estudos mostram que comunidades como grupos de cultura incel e de pedofilia podem se aproximar de crianças vulneráveis. A tecnologia na infância é boa, desde que ela seja bem-acompanhada pelos responsáveis. Por isso, é importante que os pais fiquem atentos e informados para proteger ao máximo as suas crianças de adultização e qualquer tipo de abuso.

Construir uma rotina adequada para a criança

Manter rotinas adequadas à idade, como tempo para brincar, estudar e descansar, é essencial para evitar a adultização precoce. Portanto, crie hábitos saudáveis e deixe que as crianças sejam e ajam como crianças ao longo da sua infância.

Como lidar com a influência de tecnologias na adultização precoce?

A tecnologia é benéfica, mas também pode trazer muitos desafios. Se, por um lado, abre portas para aprendizado e entretenimento, por outro, pode acelerar a adultização quando usada sem supervisão. 

Por isso, é importante utilizar algumas estratégias para controlar  o uso das tecnologias pelas crianças e impedir que elas adotem comportamentos que não condizem com sua faixa etária. 

Veja abaixo algumas sugestões:

  • Configurar filtros e acompanhar o que a criança consome na internet com ajuda de aplicativos voltados para segurança dos pequenos;
  • Pesquisar bastante antes de dar um celular para a criança;
  • Evitar perfis em redes sociais, mesmo que supervisionados. Isso porque esses perfis expõem crianças a comentários, comparações e riscos de assédio. A recomendação é adiar ao máximo o acesso a plataformas abertas;
  • Conversar sobre proteção, respeito ao corpo e limites, reforçar acordos de uso de tempo das telas e explicar os perigos de interações online;
  • Observar mudanças de comportamento (como irritabilidade, isolamento, ansiedade ou preocupação excessiva pela aparência);
  • Oferecer alternativas de lazer, como esportes, leitura e convivência social, ajuda a criança a não depender exclusivamente das telas;
  • Denunciar práticas abusivas e acionar o poder público, que segundo a Agência Brasil está com um projeto de regulação das redes, toda vez que se deparar com casos de adultização infantil (em anúncios, por exemplo, que podem exibir pessoas falando palavrão ou dançando de maneira sensual,  etc.).

Juntos na luta contra a adultização

Grupo de crianças brincando com bolhas de sabão em um ambiente ao ar livre com muita luz e vegetação verde

A adultização infantil é um fenômeno complexo, que envolve fatores culturais, sociais, familiares e tecnológicos. Mais do que culpar apenas as redes ou os pais, é preciso enxergar como a sociedade está adultizando as crianças e refletir sobre os impactos disso.

É importante também lembrar que combater a adultização infantil é uma tarefa coletiva: das famílias, das escolas, da sociedade e das plataformas digitais. Só assim será possível garantir que as crianças tenham não apenas um futuro mais seguro, mas um presente mais justo. E o Dialogando está aqui porque concorda com essa luta e pauta. Que possamos fazer da internet um lugar melhor para as crianças e jovens.

Até a próxima!

Fonte: Dialogando - Como a discussão sobre adultização mostra a importância da união entre família, sociedade e regulação nas redes sociais? Dialogando

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Newsletter

Receba nossas notícias e fique por dentro de tudo ;)

Nós utilizamos cookies para melhorar sua experiência em nosso site. Se você continuar navegando, consideramos que está de acordo com a nossa Política de Privacidade.

Telefonica