Para dar um norte conceitual a essa conversa, vamos diferenciar tolerância de aceitação. A tolerância pressupõe a permissão da existência de alguém diferente de você, da sua crença, dos seus valores.
Aceitar, por outro lado, implica em compreender o mundo como ele é: cheio de pessoas, famílias, casais, culturas, lugares, cheiros, cores, tamanhos diversos.
A pedagoga e mestre em Educação, com pesquisa relacionada à Tolerância e Educação, Paula Andreatti Margues, ressalta que nossos limites terminam quando começam os do outro. Que a outra pessoa tem necessidades, vontades, dores e frustrações, assim como você e seu filho.
Estamos em constante movimento e essa evolução da vivência permeia e abrange nossa relação e interação com o mundo, com nós mesmos, com o outro e com a internet. Podemos e devemos usá-la a nosso favor! A Paula ajuda a gente a entender, sob a lente das novas mídias, situações que podem ocorrer em nossas casas.
“Mãe, a foto de capa do face do meu amigo é com os dois pais dele!”
Paula Margues: Limitar o acesso das crianças aos conteúdos digitais, online e televisivos não é a solução. Não há como isolá-las dessa realidade, porque elas já nasceram inseridas nela. Qualquer tentativa próxima disso é uma falsa sensação de controle sobre seu filho.
Se a criança estranha e questiona ter vivenciado, presenciado uma cena de afetividade ou relacionamento homossexual, os responsáveis podem ajudar a criança a perceber que, assim como pessoas de sexos diferentes se amam, as do mesmo sexo também. Esse exercício varia de acordo com a linguagem e, principalmente, de acordo com a dúvida do seu filho.
Responda apenas o que for trazido por ele. Se você não souber a resposta, é fundamental dizer que vai pesquisar sobre o assunto e, de fato, o fazer para dar a devolutiva para a criança ou o jovem. Não invente. Responda. Essa é uma parte extremamente importante do desenvolvimento do seu filho.
“Pai, o João virou Maria!”
Paula Margues: O conteúdo televisivo está mudando e tem abordado temas antes considerados tabus, como a transexualidade, por exemplo. A forma como os assuntos são tratados pela TV, ou na internet, não precisa necessariamente ser a sua. Mais uma vez, o caminho é um diálogo que apresente uma concepção de mundo e de sociedade em que diferenças sejam qualidades.
Não tenha medo de errar. Explique que existem outros valores, posicionamentos, modos e pontos de vista, além dos que ela conhece. É um processo importante para a criança se colocar no lugar do outro. Para isso, elas precisam aprender que há mais de um modelo de ser, existir, viver, escolher, casar, ter filhos, se relacionar, se vestir e falar. Apresente as diversidades.
“Falaram que meu cabelo é ruim”
Paula Margues: Quando uma situação dessas acontece, é importante explicar sobre o preconceito, que é uma questão histórica e social. E está errado! Converse com seu filho para que ele esteja preparado para questionar quem o ofendeu na rede. Fale sobre certo e errado. Trabalhe muito a autoestima do seu filho e diga que não há cabelos bons ou ruins, apenas diferentes. E a recíproca é verdadeira, afinal se o seu filho for quem estiver fazendo bullying, a conversa precisa ser série e esclarecedora.
A base de qualquer relação, principalmente a que envolve tanta confiança e (in)segurança como a de pais e filhos, é o diálogo. Sabemos que as informações e desinformações estão aí e nos rondam diariamente.
Quanto mais cedo aceitarmos que ter o formato dos olhos, a cor do cabelo, o tamanho das bochechas ou o gosto musical diferentes dos nossos amigos não faz o mundo acabar, melhor. Assim, já seremos e formaremos pessoas mais inclusivas para o futuro.
E aí, já passou por alguma situação parecida?