‘Tem gnt q iskrevi axim. Kiki tem’?
O chamado “internetês” acelera as conversas nas redes sociais e economiza o “tempão” que a gente leva apertando o shift para emplacar aquele acento agudo ou circunflexo nas palavras. Nesse caso, “você” já nem carece mais do “e”. Vai “vc” mesmo, e já era!
O fato é: o mundo se globalizou e a população passou a ter mais acesso à internet. Os chats ganharam destaque especialmente com a chegada das redes sociais – Facebook, Messenger, Twitter e tantas outras, até o advento do WhatsApp. Ou melhor, o “Zap”, app que a cada dia ganha mais adeptos: seduz dos jovens aos 60+, justamente por ser prático e agradável, já que é também território dos famosos emojis e stickers. Sem contar que a plataforma parece nos dar maior permissão para abreviar as palavras.
(Falando em emojis, clique no link e entenda se você vem exagerando nos smiles no ambiente de trabalho!).
Neste contexto, é possível observar que a comunicação dentro desses gêneros textuais, no meio virtual, passou por algumas transformações (algumas???).
Enfim, podem nos julgar, mas o internetês, que ganhou vida com a popularização das tecnologias, torna a comunicação mais divertida. Quer dizer, isso quando conseguimos entender o que o nosso amigo está falando do lado de lá das redes, não é mesmo?
Mas quais suas implicações em nossas vidas práticas e nas vidas dos pequenos que estão sendo alfabetizados agora?
Entenda!
Internetês com sotaque regional
No Brasil, é possível perceber variações linguísticas do português adquiridas, com o passar dos anos, por influências diversas, como por exemplo as falas do carioca, do mineiro, do baiano, do gaúcho, do pernambucano etc.
Claro que o internetês entraria aqui também, nesse caso acompanhando os sotaques distribuídos entre as cinco regiões do país, momento em que a escrita das redes se caracteriza por um conjunto de abreviações de sílabas e simplificações de palavras que levam em conta a pronúncia e a eliminação (ou inclusão) de acentos.
Por isso, é possível diferenciar os sotaques. Se a gente escreve “é mêrmo”, de cara já entendemos que estamos nos referindo a um carioca falando.
Mas nossa criatividade – virtude intrínseca dos brasileiros – vai muito mais longe: teclakue (fala comigo), tôka módó (estou com muita dó), pru6(para vocês), eu lovo u (eu amo você), ctafim (você está a fim?) são expressões cada vez mais encontradas no cotidiano digital.
Daí a preocupação de especialistas com a…
Influência do internetês na alfabetização
As considerações de quem trabalha com a língua portuguesa são bem menos divertidas do que aquelas que gostaríamos de ler ou ouvir.
Alberto Dines, jornalista e ex-apresentador da TVE, dizia que o “novo idioma” representa um rebaixamento da língua, um “nivelar por baixo”. Já a escritora Martha Medeiros cita o escritor português José Saramago e diz: “Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, nem se referia à internet, mas ao fato de que, há apenas cinco décadas, a língua era falada e escrita de maneira mais admirável e rica por nossos antepassados”.
Você deve estar pensando “poxa, mas então vamos ter que voltar a falar ‘vosmecê’, como nos filmes antigos, é isso”?
Caaaalma. Esses especialistas não falam sobre levar tudo a “ferro e fogo”, mas alertam, principalmente, para a alfabetização dos jovens.
Eduardo Martins, autor do Manual de Redação do jornal O Estado de S. Paulo, considera que o aprendizado da escrita depende da memória visual. Ele ressalta que “muitas pessoas, quando esquecem a grafia de alguma palavra, a escrevem várias vezes para tentar, visualmente, lembrar dela. E se os jovens ainda em formação forem bombardeados por diferentes grafias, tenderão à dúvida”. Daí a necessidade de pais e responsáveis monitorarem o exagero no uso do dia a dia das linguagens virtuais.
Internetês com regras?
Para estudiosos, embora a escrita das redes pareça uma bagunça, é possível observar que o internetês valoriza as consoantes em detrimento das vogais, como em blz (b = be, l = lê, z = za) e kbeça (k = ka, b = be, ça = ça). Logo, percebe-se que este sistema gráfico não é aleatório.
No caso do chamado miguxês dos adolescentes – linguagem que se caracteriza por expressões blogueiras que buscam ampliar a doçura da comunicação – tudo começou com meux amigux, que lê-se meusch amigusch. O termo é proveniente de miguxa, variante de “amiga”, forma polida usada no tratamento entre duas pessoas jovens em mensagens trocadas pela internet.
De miguxa em miguxa, kbeças e blzas, a nova linguagem já conta até com sátira publicada por especialistas, que consideram que os novos recursos vêm da dificuldade do brasileiro com a gramática.
No artigo Nossa sugestão para o internetês, em vez de melhorar a qualidade de ensino do país, eles sugerem implementações de forma gradual, para “não assustar os poucos que sabem escrever, nem deixar mais confusos os que ainda tentam acertar”.
Confira, abaixo.
Agora, fale a verdade. Que bom que estamos falando apenas de uma sátira, porque se você conseguiu chegar até o final da leitura, percebeu que a proposta parece assustadora, não é mesmo?
Avaliações positivas
O estudo A influência da linguagem da internet na escrita formal: uma pesquisa com alunos do 9º ano na cidade de Tobias Barreto – SE, desenvolvido por Érica Angelina de Melo e Flávio Passos, considera que o uso do internetês deve ser atrelado ao contexto virtual, não interferindo nos escritos convencionais. Por conta disso, não devem ser considerados erros de grafia quando este tipo de escrita está ligado diretamente a determinados gêneros textuais no meio virtual.
“Entende-se assim que, quando as sentenças são construídas por meio de reduções de palavras ou acentuações, emojis ou mesmo palavras escritas em caixa alta no meio do texto, isso faz parte do contexto no qual o discurso está inserido, já que o ser humano modifica tanto a língua quanto a escrita ao produzir sentenças e adaptá-las ao contexto e a seu objetivo, no ato comunicacional, principalmente informal.” (p.25)
No entanto, o ensaio lembra que ainda que a maior parte dos alunos não utilize o internetês em suas produções, alguns produzem textos com as marcas da nova escrita e, por isso, seus autores advertem:
“Fica claro que os professores devem levar para a sala de aula práticas de ensino voltadas para a realidade do aluno, bem como despertar a curiosidade para que possam desenvolver as suas habilidades de leitura e escrita no ambiente escolar. Consequentemente, irão aprender de forma prazerosa e dinâmica, visto que a sala de aula precisa ser um ambiente incentivador para que o aluno se sinta motivado a todo momento. Partido desse princípio, e como sugestão de ação, entra aí o papel da escola na preparação do aluno para o mundo, pois ele precisa estar dotado de competências linguísticas. Assim, cabe à escola desenvolver práticas didáticas com o objetivo de trabalhar os diferentes gêneros textuais.” (p.33)
Olha, da nossa parte, nós adoramos escrever este post até aqui, porque achamos divertidíssimo! Mas agora é hora de VOCÊ fazer sua avaliação. Conte para a gente nos comentários: até onde você acha válido o uso da escrita das redes em nossas vidas virtuais?