Campanha do governo conscientiza e provoca a opinião pública

24 de maio de 2017

A marca de roupas italiana Benetton ficou mundialmente conhecida nos anos 80 após uma campanha publicitária sem precedentes na história da propaganda, que tinha um objetivo tão proposital quanto indisfarçável: chocar. Um padre prestes a beijar na boca uma freira, um pato coberto de petróleo, um soldado em campo de batalha segurando um osso humano e um homem com Aids à beira da morte são apenas um punhado de exemplos de abordagens chocantes, para chamar a atenção para temas como direitos humanos e meio ambiente. A marca fez escola e, desde então, foram inúmeras as campanhas que lançaram mão desse recurso polêmico para atingir seu objetivo, quase sempre em causas semelhantes.

Hoje, a Benetton teria incluído as mortes no trânsito e também teria sido alvo de controvérsias, apoio e críticas como foi na época – e assim como está acontecendo com a campanha “Gente boa também mata”, lançada no começo deste ano pelo governo brasileiro a fim de despertar a atenção, conscientizar – e, sim, chocar – sobre uma questão que a cada dia só faz matar mais gente por motivos evitáveis, como álcool e falta de uso do cinto de segurança.

A campanha, em síntese, mostra que pessoas que costumamos dizer que são “do bem” são capazes de matar, ainda que sem querer. Quem resgata cães de rua, faz trabalho voluntário e planta árvores, por exemplo, também dirige falando ao celular, abusa da velocidade e bebe antes de dirigir. Na peça principal da campanha, uma pessoa do bem atropela um ciclista. E é justamente isso o que choca: parece injusto que pessoas tão boas sejam retratadas dessa maneira. No imaginário social, quem mata no trânsito é gente irresponsável, arrogante, mal-educada, violenta – jamais gente do bem.

Será?

Nos tempos da Benetton, não existia internet, muito menos redes sociais. Ainda mais por ser uma estratégia inédita, a campanha provocou discussões acaloradas, mas elas ficavam restritas à imprensa e ao acaso das ruas. A divulgação era basicamente em outdoors e revistas. Já a campanha do governo brasileiro levou a discussão para as redes sociais, num fenômeno que amplificou o impacto do choque da campanha bem além dos outdoors e cartazes num debate acirrado, como costumam ser as discussões sobre qualquer polêmica na internet.

De um lado, estão os que veem na campanha o exagero de criticar justamente as melhores pessoas para chamar a atenção e criar sensacionalismo sobre as mortes no trânsito. Para eles, tudo tem limite. De outro, há os que acham que é preciso radicalizar para sensibilizar a população sobre questões vistas com certa indiferença em campanhas de informação tradicionais. Nesse caso, os fins são nobres o bastante para justificar os meios. A intenção declarada de “Gente boa também mata” é fazer a opinião pública perceber que o estereótipo de que “os outros” são inconsequentes é equivocada, e que qualquer um pode errar e provocar acidentes.

Em outras palavras, nós também somos os outros.

Fonte: Dialogando - Campanha do governo conscientiza e provoca a opinião pública Dialogando

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Comentário(s)

  • Concordo, qualquer motorista ou motociclista, ocasionalmente, comete erros no transito, e em alguns destes casos o acidente pode ser fatal ou ferir alguém.

  • Cometer acidentes todo mundo está sujeito, mas se o acidente for por imprudência tem que ser punido.

  • Gente boa também mata ser prudente seria o ideal para uma vida melhor o problema não está em ser bom ou mal mais sim em respeitar o direito de vida de cada um com respeito e justiça e dignidade e humanidade

  • Sim , ninguém deve se sentir melhor do que o outro,ter atenção é muito importante , não beber quando estiver dirigindo,não falar ao celular e respeitar as leis do transito,lembrar sempre que ao lado dele, tem sempre alguém ,que deve ser respeitado.

  • Há quase 17anos do último acidente, há poucas semanas fui surpreendido por um. Isso que tenho sempre dedicado cuidado e atenção na estrada. Ninguém está livre de não cometer ou ser envolvido num acidente. Há que se cuidar de si e dos outros no trânsito.

  • Perfeito sou cidadão correto cumpridor de minhas obrigações, mas bebia muito, felizmente nunca causei danos sérios à terceiro, mas…

  • Concordo, não podemos ser passivos com tamanha mortandade no trânsito. Responsabilidade de todos e para todos. Prevenção. Contudo, não se pode esquecer (deixar em um canto escondido) o grave descaso com as estradas: esburacadas e sem sinalização – mesmo nas cidades. Ou seja, os “governos também matam no trânsito”. A pergunta que fica é quem mata mais?

  • Não existe trânsito totalmente seguro com o descaso das autoridades, pois as estradas não te dão segurança com buracos, falta de sinalização e a única coisa que fazem é a industria da multa, porque não investem mais em educação no trânsito ao invés de multar!

  • E o brasileiro continua botando a culpa toda no estado. =( Na minha região, pra cada problema na pista ou na sinalização, vejo 10 problemas na conduta das pessoas, ao dirigirem ou andarem (pedestres) de modo imprudente ou ilegal, colocando vidas em risco.E o trânsito eh um fiel retrato do Brasil. Difícil acreditar num país assim.

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