Recentemente, trouxemos uma edição histórica em nosso podcast. Sobre um tema que nos entristece? Sim. Mas que, justamente por isso, se faz tão necessário. Por lá, falamos do silêncio entre homens e meninos que sofrem violência sexual, com um especialista em áreas diversas, que dedica anos de combate a essa pauta: Denis Ferreira, fundador da ONG Memórias Masculinas – a primeira organização brasileira especializada em atendimento exclusivamente masculino para esses casos.
A atenção psicológica a essas vítimas é um problema sério e subnotificado, tanto no Brasil quanto em muitos outros países.
Falamos de pessoas que enfrentam diversos desafios, incluindo traumas psicológicos, estigmas sociais e dificuldade em relatar os crimes pelos quais são submetidos por medo, vergonha e o tabu associado à violência sexual masculina.
Infelizmente, a cultura machista arraigada em nossa sociedade tem parte enorme nessa conta de números incalculáveis, já que o machismo faz com que o público masculino – seja criança, jovem ou adulto – tenha receio de ser visto como fraco ou menos masculino ao revelar ter sido vítima de abuso sexual.
O desastre das subnotificações
Falar em problemas de saúde pública não é só trazer à tona pautas visíveis como o da população viciada em drogas como o crack.
A violência sexual é outro grave impasse da mesma ordem que precisa ser enfrentado por nossa sociedade, para ontem.
Segundo dados do Ministério da Justiça, no Estado de São Paulo, por exemplo, cerca de 4% dos presos homens estão cumprindo sentença pela prática de crimes sexuais.
Estima-se que os registros das delegacias correspondam a cerca de 10% a 20% de todos os casos. Tudo isso porque a decisão das vítimas de não registrar os crimes, a ausência de traumas físicos em exames periciais, o fato de o agressor ser parente próximo, a vítima ser menor de idade ou portadora de deficiência mental, além do medo da reação do agressor e de sofrer constrangimento e humilhações, são todos fatores que contribuem para a ausência de dados.
Ausência que deixa flagelos irreparáveis na vida das pessoas agredidas, com impactos diretos na construção de bases sociais saudáveis. E é aí que o quadro de doenças e distúrbios mentais de todos os níveis cresce entre o grupo.
A saúde mental de meninos e homens vítimas de assédio
O quadro mental dos meninos, adolescentes e homens que sofrem abusos sexuais não é muito diferente do das mulheres expostas às mesmas situações.
Segundo psicólogos, as vítimas do grupo também passam a negligenciar a si mesmos por conta da ideia machista de que “se fui assediado, fiz algo para merecer isso”. Depois, vem a invalidação emocional – prática em que a pessoa cria mecanismos para cancelar o que sente, como se estivesse errada.
Claro que as consequências dessas saídas como respostas ao problema são preocupantes e, ao procurarem ajuda médica (quando procuram!), os diagnósticos quase sempre apontam para quadros de transtornos de ansiedade que se dividem em TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), transtorno de pânico e fobia social.
Daí nosso apelo para quem quer que nos leia: está sendo agredido, persuadido a fazer algo que não quer ou vem carregando frustrações por situações do passado? Não tente enfrentar tudo isso sozinho. Procure auxílio médico, converse com pessoas de sua confiança!
O primeiro passo para a cura emocional, para que você possa seguir sua vida com mais leveza, é cuidar de você mesmo. Não deixe para amanhã. Busque ajuda HOJE.
O assédio no campo virtual
No mundo on-line, meninos, rapazes e homens adultos também não estão ilesos a práticas criminosas recorrentes nas redes sociais e aplicativos de relacionamento.
Meras conversas nos chats podem se transformar em crimes se o envio de imagens sexuais, por exemplo, violar a intimidade de uma pessoa, ou se algum gesto de qualquer forma puder constrangê-la.
O fantasma das subnotificações também habita esse eixo quando a pauta é a violência sexual praticada contra o público masculino, mas dados sobre as mulheres trazem números assustadores: 77% das brasileiras sofrem assédio pela internet, e a maioria das meninas afirma ter começado a sofrer esse tipo de violência na internet entre os 12 e 16 anos, segundo levantamento da ONG Plan International.
Nós já trouxemos esse tema desgastante aqui, no webcast que contou com Elaine Zordan Keller, economista, advogada, mestra em direito pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino) e especialista em ESG. Não deixe de conferir.
E saiba que a violência on-line conta com o apoio de organizações como a Safernet para que as vítimas possam fazer denúncias por meio do canal de ajuda com suporte governamental e parcerias com a iniciativa privada, autoridades policiais e judiciais.
Disque! Disque! Disque!
Se você é uma vítima, saiba que o ordenamento jurídico assegura, expressamente, ao homem, garantias de proteção de urgência similares às da Lei Maria da Penha, como explica o Conjur.
Mas se desconfia que algum jovem de seu convívio passa por situações de violência sexual, não hesite: disque 100.
O Disque 100 é um serviço de denúncias e proteção contra violações de direitos humanos 24 horas e funcionamento de segunda a segunda, mesmo aos fins de semana e feriados.
Criado em 1997 contra o abuso e exploração de crianças e adolescentes, surgiu por meio de iniciativas de organizações não governamentais para mensurar violências voltadas a essa população e agir contra elas.
Em 2003, compreendeu-se a necessidade de que o serviço fosse institucionalizado como de urgência, tornando-se responsabilidade do governo federal e da Secretaria Especial de Direitos Humanos. E não por menos.
Apenas nos quatro primeiros meses de 2023, o canal registrou mais de 17,5 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes. De acordo com as denúncias, a casa da vítima, do suspeito ou de familiares é o pior cenário, com quase 14 mil violações.
Descobri um menino ou homem assediado. E agora?
Abaixo, listamos ações importantes que devem ser adotadas quando é descoberto um caso de violência sexual tanto com crianças quanto com adolescentes e homens adultos:
- Não critique nem duvide do que ele esteja falando;
- Incentive a vítima a falar sobre o ocorrido, mas não a obrigue;
- Fale sempre em ambiente isolado, para que a conversa não sofra interrupções nem seja constrangedora;
- Evite tratar do assunto com aqueles que não poderão ajudar;
- Denuncie e busque a ajuda de um profissional para atendê-lo;
- Não o trate com piedade, e sim com compreensão;
- Nunca desconsidere os sentimentos da criança e/ou adolescente;
- Reconheça que se trata de uma situação difícil;
- Esclareça que a culpa não é dele.
Fonte: Fórum Catarinense Pelo Fim da Violência e da Exploração Sexual Infantojuvenil.
Prevenção
Agora, algumas atitudes necessárias para que pais, mães e responsáveis colaborem para a prevenção dos casos:
- Cuide de seu filho, criança ou adolescente, pelo qual você é responsável. Dê a ele toda a atenção que puder;
- Procure sempre saber onde eles estão, com quem estão e o que estão fazendo;
- Ensine-os a não aceitar convites, dinheiro, comida e favores de estranhos, especialmente em troca de carinho;
- Sempre os acompanhe em consultas médicas;
- Converse: crie um ambiente familiar tranquilo que ele saiba que pode confiar;
- Conheça seus amigos, principalmente os mais velhos;
- Supervisione o uso da internet (Facebook, Twitter, chats etc.);
- Oriente seus filhos a não responderem e-mails de desconhecidos, muito menos enviarem fotos ou fornecerem dados (nome, idade, telefone, endereço etc.) ou, ainda, informarem suas senhas da internet a outras pessoas, por mais amigas que sejam.
Conhece algum caso subnotificado e reconhece que esse conteúdo DEVE passar para frente porque pode ajudar muitas pessoas?
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