Se você tem menos de 40 anos, sabe que pode ser divertido demais ver os pais e avós engajados com o Facebook e o Instagram.
É essa turma que compartilha todos os posts dos netos e deixa mensagens do tipo “esse cabelo está horrível” naquela foto que você acaba de postar jurando que iria chamar primeiro a atenção do crush.
Agora, se você tem menos de 40 anos, também sabe que introduzir a mãe e o avô no mundo digital requer, muitas vezes, paciência. O simples ato de desligar e ligar um notebook talvez precise passar por um longo processo de repetição até que a ação vire algo comum para eles.
Natural, ora! E não deveria nos surpreender o fato de que pessoas mais novas têm um nível de interesse e facilidade maior com as tendências tecnológicas, não é mesmo?
Por isso, é com o respeito que merecem os 60+ que o Dialogando te convida a conhecer como essa turma se relaciona com a tecnologia. Nascidos entre 1946 e 1964, seus integrantes mais velhos têm 76 anos hoje.
Falamos dos Baby Boomers, geração marcada pelo pós-guerra, as máquinas de escrever e as receitas anotadas no caderno engordurado sobre a mesa.
Só que muitos já não sabem mais nem onde estão esses cadernos porque uma coisa é certa: eles podem até ter levado mais tempo para se familiarizar com o mundo digital, mas agora já sabem que aquela estrelinha ao lado da notícia, receita ou produto, é capaz de “favoritar” tudo o que gostam pelas redes, para que não sejam perdidas jamais.
Baby Boomers: cada vez menos resistentes
Já falamos por aqui que as gerações Y e Z são estatisticamente as maiores consumidoras de tecnologia do mercado (clique e conheça os Ys e os Zs), e por motivos óbvios. Mas os números mostram que os Baby Boomers vêm sucumbindo cada vez mais às delícias do mundo digital.
Nos últimos anos, o percentual de pessoas com mais de 60 anos no Brasil navegando na rede mundial de computadores cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021, segundo dados da pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.
O principal meio de acesso é o smartphone, citado por 84% dos entrevistados que usam a internet — um crescimento de 8 pontos percentuais em relação a 2018 —, enquanto 37% usam notebook e 36% computador desktop.
O boom de adesão dos Baby Boomers foi ainda mais acelerado ao longo do período pandêmico. Isolados da família, tiveram que vencer a falta de botões dos celulares modernos.
Quando ligar já não era mais o suficiente, muitos tiveram que se adaptar ao touch screen (tela sensível ao toque), porque smartphones tornaram-se o principal meio de contato com amigos e familiares. E o bom de tudo isso é que não faltaram momentos emocionantes, ao receber um beijo dos filhos e netos, mesmo separados por uma tela, em videochamadas.
Claro que, daí para entenderem que esses aparelhos poderiam trazer outra série de facilidades, foi rápido. Ao longo do período, o mundo business viu suas vendas aumentarem significativamente entre esse público.
De acordo com o levantamento da Kantar Ibope Media, em 2020, 85% deles utilizaram a internet para obter informações sobre produtos ou serviços antes da realização de uma compra, e 75% compraram efetivamente algo on-line.
A adesão às transações via aplicativos, por exemplo, os expuseram menos ao contato com a covid-19, mas não foi só na prevenção à doença que esse time escalou, não.
Também passou a ser visto com mais presença nas redes sociais, inclusive como influenciadores. Em 2019, eram cerca de 300 acima dos 50 anos, no Brasil. Hoje, são mais de 600, segundo a consultoria Silver Makers, especializada em marketing de influência para essa faixa etária.
E a garotada que se cuide, porque os avós TikTokers vêm promovendo humor de qualidade com a conquista de fãs de todas as idades. Um baita gol para os ambientes digitais, que se tornam mais diversos e, portanto, mais interessantes e democráticos.
Baby Boomers: muito mais antenados
Manter o entretenimento e o contato com as pessoas é só uma pequena parte do que os Baby Boomers vêm buscando on-line. O estudo da CNDL com a SPC Brasil mostra que 64% do grupo têm como principal motivação manter-se informado sobre política, esportes, economia e outros assuntos, enquanto 54% utilizam a web para buscar informações sobre produtos e serviços.
Entre os produtos que costumam comprar pela internet, destacam-se os eletroeletrônicos (58%), medicamentos (49%, com aumento de 21 pontos percentuais em relação à 2018) e eletrodomésticos (47%).
Os aplicativos mais usados são as redes sociais (72%), seguidos dos apps de transporte urbano (47%), e bancários (45%).
O WhatsApp é a plataforma de relacionamento mais usada (92%). Isso é bom porque a ferramenta é instantânea e de fácil usabilidade. Mas o lado ruim é que é ela é quase sempre a porta de entrada para o consumo de notícias de todos os níveis: das reais, às falsas. Motivo que aumenta a responsabilidade dos jovens na educação digital das pessoas mais velhas.
(Entenda como somar na educação digital 60+ para protegê-los dos perigos on-line no webcast Segurança Digital e Terceira Idade).
Deu para entender que lugar de Baby Boomers é onde eles quiserem, né? Agora, falta só as empresas brasileiras quebrarem preconceitos e perceberem quão saudável pode ser contar com o grupo no dia a dia de suas operações. Mas, nessa pauta, ainda temos muito a evoluir…
Tecnologia e trabalho
Segundo estudo realizado pela Silver Makers em parceria com a Mindminers, especialista em comportamento digital, 7 em cada 10 empresas do país consideram que as pessoas mais velhas não acompanham as transformações tecnológicas.
Esse estigma precisa ser, de fato, revisto, já que a maioria dos brasileiros 60+ já vivem plenamente conectados. Ok, não passam o mesmo tempo on-line se compararmos com as gerações Y e Z, que acessam as redes praticamente o dia todo. Mas passam mais tempo nas redes de uma vez só.
Quando entram, fazem várias coisas, por horas: jogam, leem, veem vídeos e dão like em quase tudo o que passa no feed. Nada que as pessoas mais novas não façam com frequência.
Nesse cenário – e considerando que a população 60+ no Brasil saltou de 3 milhões em 1960 para 7 milhões em 1975, depois para 15 milhões em 2002 e quase 30 milhões em 2018 – vale lembrar que urge a adoção de soluções criativas no setor empresarial para aumentar a presença de Baby Boomers no quadro de colaboradores. E as vantagens de contar com o grupo no universo do trabalho são diversas.
Falamos de um público que quase sempre não quer deixar de trabalhar, e isso, por si só, já os torna mais participativos e empenhados na busca por resultados. Contribuem com toda a bagagem adquirida ao longo da jornada de carreira, o que, dependendo do segmento, pode ser essencial para o sucesso do negócio.
Quase sempre tendem a ser mais empáticos e afetivos, já não pecam mais pela afobação, são mais centrados, prudentes e responsáveis. Sabem lidar com situações de tensão, sem se abalar por qualquer motivo.
Sem contar que, ambientes diversos, com pessoas que agregam repertórios de vida distintos, são absolutamente enriquecedores. Equilibram a experiência dos mais velhos com a sede de conhecimento dos mais novos, formando times mais inovadores dentro de qualquer corporação.
Perceba nos dados do estudo Getting to Equal: Creating a Culture That Drives Innovation (Chegando à Igualdade: Criando uma Cultura que Impulsiona a Inovação), promovido pela Accenture, multinacional de consultoria de gestão e tecnologia da informação:
a) A cultura de inovação é maior em empresas mais igualitárias;
b) Colaboradores de empresas mais inclusivas não veem barreiras para inovar;
c) Colaboradores de empresas mais igualitárias têm menos medo de errar;
d) Diversidade e inclusão são mais relevantes para gerar inovação do que aumentos de salário.
Se você recruta, vale pensar que os 60+ poderão levar mais tempo para fazer todo um PPT, e esse PPT poderá ter uma proposta pouco sofisticada, no final. Mas se você buscar conhecer algumas adaptações capazes de unir a tecnologia com tudo o que eles têm a oferecer, perceberá resultados bastante positivos em curto prazo.
Procure uma consultoria especializada na gestão e recrutamento desse público e dê um show de responsabilidade social na era em que toda empresa moderna começa, enfim, a se preocupar com práticas humanizadas, não apenas com o próprio lucro.
E para todos que chegaram até aqui, lembrem-se que a jovialidade e toda a rapidez das fases de vida que antecedem a terceira idade, uma hora, passam.
Nesse sentido, comece a trabalhar agora pelo mundo que você quer viver lá na frente. Exija que suas marcas preferidas olhem para esse público com mais afeto no desenvolvimento de produtos e serviços que possam dar conta das limitações naturais trazidas pelo envelhecimento.
#PorUmMundoSemDistinção