Quando o assunto é criança, um tema recorrente na conversa de gente grande é a imensa facilidade que elas têm para lidar com tecnologia. Os nativos digitais levam minutos para aprender coisas tecnológicas que os pais consomem horas e ainda com a ajuda de um manual.
Os adultos ficam de queixo caído e se perguntam por que aparelhos aparentemente tão complexos tornam-se tão simples nas mãos dos filhos.
Desta forma a resposta é que enquanto uma geração teve como auge da tecnologia a televisão (numa relação passiva). A outra já nasceu cercada de computadores, videogames, celulares e internet (numa relação amplamente interativa).
Essas crianças foram construindo sozinhas um novo sistema de relações interpessoais, aprendizado, estilo de vida e comportamento. Em uma palavra, um novo mundo.
Isso fez com que a ciência começasse a se perguntar se essa nova geração realmente pensa diferente das anteriores. E, se não seria o caso de repensar a educação para eles.
Nativos e imigrantes
Para o educador americano Marc Prensky, a resposta é sim para ambas as perguntas. Ele foi o primeiro estudioso a pesquisar profundamente a questão e cunhou as expressões “nativos digitais” e “imigrantes digitais”.
Ele se referia à geração que já nasceu em um ambiente informatizado e aqueles que precisaram se adaptar às mudanças.
Com base nos mais recentes estudos de neurobiologia, não há mais dúvida de que diferentes tipos de estímulo realmente mudam as estruturas cerebrais e afetam o modo de pensar, e essas transformações continuam durante toda a vida”, disse Prensky ainda em 2001, quando cunhou a expressão nativos digitais.
De lá para cá, ele já escreveu sete livros e inúmeros artigos científicos sobre a necessidade de educar as novas gerações forma diferente.
Educação da nova geração
Prensky propõe uma ruptura total com o modelo educacional que sempre existiu. “Quase tudo que se fala sobre educação parte do princípio de que ‘aprender’ é o objetivo de qualquer estudante. Mas não é”, diz ele em um artigo de 2014.
“Aprender é só um meio para atingir essa meta, embora exista um meio melhor, que é realizar”, acrescenta. “Ao fazer da escola um lugar para aprender, estamos negando a nossos filhos o que eles mais necessitam. A percepção do que eles são capazes de realizar e de se transformar.”
Ademais ele faz questão de dizer que não é contra o aprendizado, mas diz que aprender por aprender é vazio.
Prensky argumenta que esperamos de nossos filhos que tirem boas notas nas provas. Mas, por outro lado, que não pensem, ajam, relacionem-se e realizem coisas no mundo imensamente diferente que vem pela frente.
E isso é algo em que as pessoas não costumam pensar: os nativos digitais de hoje são os imigrantes digitais de amanhã.
“Não estamos numa fase de transição para outra de estabilidade”, disse ele recentemente à rede de televisão americana CNN. “A partir de agora, as pessoas vão sempre ficar para trás, e isso será um estresse com que elas terão de aprender a conviver.”
Adaptação da tecnologia
Mas há quem discorde de Prensky. É o caso da jornalista e psicóloga britânica Susanne Moore, especialista em tecnologia. Segundo ela, o mundo vai entrar, sim, numa fase de estabilidade.
“Parte do fascínio com o conceito de nativos digitais versus imigrantes digitais se baseia na percepção de que são as pessoas que precisam se adaptar à tecnologia”, sustenta ela em um artigo.
“Mas a indústria da tecnologia está caminhando para uma fase de maturidade. Será uma etapa na qual soluções digitais vão fracassar no mercado se não forem imediatamente intuitivas e fáceis de usar sem instruções ou suporte técnico.”
É um bom argumento, mas como todos são baseados em projeções de futuro, o tempo é que responderá.