Levantamento do INCT (Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação) mostrou que 68% da população acredita em todas as notícias que recebe e isso inclui as fake news.
Em tempos de proliferação descontrolada das fake news, o fato é preocupante. Mas por que será que, mesmo com tanta orientação e esclarecimento, tanta gente ainda continua caindo nas pegadinhas das notícias falsas e, pior, repassando para todo mundo?
A ciência mostra que, mais do que falta de atenção ou tempo, todo esse pessoal pode estar sendo enganado por um inimigo bem difícil de combater: sua própria mente.
“Nós temos um gatilho cerebral, que chamamos de ‘regra eurística’, que é um alinhamento com o que a gente acredita que possa ser verdade, com o nosso sistema interno de crenças, muitas vezes crenças limitantes”, explica o neurocientista Ari Brito.
“Isso faz com que, mesmo que existam 500 argumentos contrários ao meu, eu me apegue ao meu único argumento e aquilo para mim se torna uma verdade”, diz.
“É o caso do fumante, por exemplo, ele sabe que fumar faz mal, sabe que tem centenas de pesquisas que atestam isso, mas aí ele vê uma única notícia em um site mais ou menos confiável, que fala o contrário, então ele usa esse dado para manter suas crenças e ignora o resto, porque ele quer continuar fumando, e é o mesmo processo com as fake news”, aponta.
Segundo Brito, todo esse processo acontece no inconsciente, por isso é mais a difícil de detectar e evitar. Pode estar ainda atrelado outros fatores de ordem psicológica e do comportamento humano.
O neurocientista destaca em adição que há uma questão cultural específica do povo brasileiro e uma conjuntura que propiciam a disseminação das notícias falsas. “Nós temos uma coisa de solidariedade, de ajudar o próximo, e muitas vezes, acabamos repassando esses conteúdos falsos achando que estamos colaborando com alguém ou alguma causa”, indica.
“Temos igualmente o hábito de não ler direito as coisas e repassar para frente, lemos por alto, achamos que bate com a nossa crença, e reenviamos”, diz Brito.
Neste contexto, para trazer de novo a decisão mais para o racional e dar chance ao cérebro de buscar mais elementos e orientações para checar a veracidade daquele conteúdo, uma boa técnica pode ser um exercício simples, recomendado para aqueles momentos em que conter um impulso é essencial – seja para fumar, comer ou repassar notícias falsas. É o famoso “contar até 10”, que segundo o neurocientista, funciona mesmo.
“É uma prática que está ligada diretamente à respiração, pode ser contar até 10 ou parar por um minuto antes de fazer o que for, não precisa ser um minuto exatamente, o importante é ter um tempo antes da ação para despertar a consciência, para dar tempo de pensar antes de fazer”, ensina Brito. Da próxima vez, já sabe: recebeu uma potencial fake news? Antes de enviar, repense.