Pesquisa do Monitor de Debate Político no Meio Digital, órgão da Universidade de São Paulo (USP), apontou que os grupos de família no WhatsApp são o principal vetor para a disseminação de fake news, ou notícias falsas, entre os usuários do aplicativo. De 916 pessoas que receberam uma informação incorreta sobre a morte da vereadora Marielle Franco, 51% afirmaram ter visualizado o texto em grupos formados apenas por parentes, seguido por grupos de amigos, com 32%. Com tanta mensagem mentirosa, fica fácil se desgastar tentando desmentir tudo o que é boato, mas a experiência mostra que, com um pouco de tato, bom humor e persistência, é possível transformar o que seria um aborrecimento em uma oportunidade de levar mais conhecimento aos familiares, deixando todo mundo mais alerta.
Na família da analista de mídias sociais Gabriela Rodrigues, a insistência de um tio, de 65 anos, em distribuir fake news provocou uma verdadeira desintegração no grupo do WhatsApp. “Ele acorda cedo, então todo dia, por volta das 5h da manhã, já estava lá a notícia falsa do dia”, conta. “Da mesma forma, todo santo dia um primo enviava o link do site Boatos.org refutando a informação, tentava explicar como ele poderia identificar se a fonte era verdadeira, mas meu tio não dava atenção, e isso durou um mês, até que meu primo decidiu sair do grupo, e alguns parentes foram com ele”, diz. “Eu acho que o pior é não ter nem interesse em se questionar se o conteúdo era verdade, mas acredito que isso tem a ver com o perfil dele, que não é habituado a debater, porque outras pessoas da família na mesma faixa etária aceitavam bem, mesmo as minhas tias são mais desconfiadas quando recebem uma informação qualquer”, acrescenta. “Pode não ter servido para o meu tio, mas certamente o trabalho do meu primo em alertar e ensinar foi útil para os outros, que hoje sabem que tem muita notícia falsa rodando por aí, que todo cuidado é pouco e onde podem checar antes de replicar”, conclui Gabriela.
No caso do jornalista Rafael Barros, a fonte preferida que as tias utilizam para checar notícias falsas e solicitar auxílio em relação a novas tecnologias é o sobrinho mais novo – ele mesmo! “Para elas, o dos meios digitais é relativamente recente. Minha geração já está conectada há mais tempo, e consegue identificar com mais facilidade quando está diante de uma notícia falsa”, relata. “Tenho uma tia, de 63 anos, que costumava compartilhar muitos conteúdos assim, desde receitas para saúde até assuntos ligados a política, agora ela me encaminha antes perguntando se é fake news, e eu vou tentando mostrar como ela pode analisar também”, indica. “É delicado, porque percebo que ando uma notícia vai ao encontro do que aquela pessoa concorda, ela não quer saber se é fake new sou não, ela quer mais é compartilhar e espalhar aquilo”, ressalta.
Além dos alertas e orientações, foram as más experiências que deixaram a mãe do blogueiro e influenciador digital Felipe Ruffino muito mais atenta ao teor do conteúdo que recebe e repassa. “Sabe aquelas mensagens falsas de sorteio, que pede para se cadastrar para ganhar amostras ou concorrer a alguma coisa? Pois é, ela vivia caindo nisso, e ainda me mandava para eu colocar no meu perfil e divulgar nas redes sociais para ganhar também, pois acreditava que assim estaria me auxiliando com o conteúdo do meu blog”, destaca. “Eu sempre tentava explicar que aquilo era um golpe, que não tinha sorteio nenhum, e ela chegou a ficar brava comigo, dizer que não me ajudaria em mais nada porque tudo o que ela me indicava eu dizia que era fake”, lembra de forma bem-humorada. “Mas agora já está mais informada, sempre me pergunta antes se a informação é verídica ou não, foi aprendendo com os erros, a gente conversa bastante sobre isso e eu acho muito bacana essa troca de conhecimento, especialmente nessa época de eleição, que é quando mais deve ocorrer esse tipo de coisa”, finaliza.
Quer saber o que está por trás das brigas e de tanta disseminação de fake news nos grupos de WhatsApp da família? A psicologia explica! Leia aqui na sexta-feira próxima, 28.